Eis uma receita de investimento já com bastantes séculos: «Alquimia provada: ter rendas e não gastar nada», diz-se em Adágios Portugueses reduzidos a Lugares Comuns. O livro, impresso em 1651, inclui até uma explicação do provérbio: «Em se tratando de dinheiro, é melhor evitar aventuras mirabolantes...» Ou seja, estamos perante um investidor avesso ao risco. Mas, nisto de dinheiros, também não é verdade que «barco parado não ganha frete» e que «quem não semeia, não recolhe»? É preciso pôr o dinheiro a render, até porque «Pedra que rola não cria limo». Investir, pois. Agora, se com muita cautela ou com algum risco, bem, isso já depende da bolsa e do espírito de cada um.
A ousadia do golpe de mestre
Qualquer investidor, de certa forma, estará à procura do seu «golpe de mestre», expressão que o Dicionário de provérbios, locuções e ditos curiosos, das Seleções do Reader’s Digest, define como sendo dito de um «empreendimento ousado que produz resultados magníficos, acima de quaisquer previsões». Talvez o segredo esteja, afinal, na capacidade de ousar? Assim parece, se entrarmos nos provérbios de pendor náutico, pois «mar calmo não faz bom marinheiro». Ah, mas tem medo de perder o seu dinheiro? Tem bom remédio: «Quem se não quer aventurar, não passe o mar.» Mas, depois, não se queixe. Até porque certamente que já ouviu este provérbio por demais conhecido: «Quem não arrisca, não petisca.»
Perfil de investidor «Adoro o risco!»
Os amantes da incerteza estão bem salvaguardados pelos anexins da nossa língua. «Quem tem coragem, tem vantagem», afiança-se, antes de se avançar com duas variantes da mesma ideia: 1) «Quem não arriscou, não perdeu nem ganhou»; 2) «Quem não se aventurou, não perdeu, nem ganhou.»
Para obter lucro, às vezes, será preciso paciência, como promete o provérbio «Tardou, mas arrecadou». E saber onde investir, claro. «Não ponhas todos os ovos dentro do mesmo cesto» está mesmo a aconselhar-nos a diversificar o portefólio, como modo de reduzir o risco, não está? No dia de receber dividendos, haverá razões para se ficar feliz. «Semeia, planta e cria, terás alegria», assegura-se. E se a coisa der para o torto? Bem, então que corra o menos mal possível para, no mínimo, se poder dizer que «Ao menos tirei a minha a limpo», conforme referido na Collecçao de Provérbios, Adágios, Rifãos, Anexins, Sentenças Morais e Idiotismos da Lingoa Portugueza, de 1848. O autor, Paulo Perestrello da Câmara, faz questão de ajuntar uma clarificação sobre o significado da expressão: «Saí-me bem da empresa, consegui o que pretendia, não perdi.»
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Perfil de investidor «Não quero perder um tostão!»
Para algumas pessoas, de facto, não perder um cêntimo acaba por ser mais importante do que a eventualidade de ganhar qualquer coisa. Os investidores avessos ao risco estão devidamente salvaguardados pelos provérbios, que começam logo por lhes dar algumas dicas generalistas, como o preventivo «Não metas teu dinheiro em saco, sem veres se tem buraco». É conselho útil para qualquer um, mas os que queiram continuar de pé atrás, temerosos, estarão escudados por séculos de ditados sobre cautelas e caldos de galinha.
Cuidado, portanto, ao «Deixar o certo pelo duvidoso». Atenção, pois, que «quem anda à chuva molha-se». É melhor que «Nam passes o pé alem da mão», avisa António Delicado, no seu Adágios Portugueses reduzidos a Lugares Comuns,com a explicação de que não se deve «dar passo maior do que a perna». Ainda não lhe chega? Eis mais umas razões para ter receio…
«Quanto maior é a ventura, menos é segura.»
«Quem ao perigo corre nele morre.»
«Quem brinca com o fogo, queima-se.»
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Da curiosidade dos ditados aos conselhos dos especialistas
Apetece terminar relembrando que «quem tudo receia, nada teme», se bem que este seja daqueles anexins que nos deixam com mais dúvidas do que certezas. Nada de novo. A nossa sabedoria popular tem sempre boas justificações para as situações mais opostas. Gosta de arriscar? Fique pelos primeiros provérbios. Tem medo de perder? Agarre-se aos seguintes. Mas espreite igualmente alguns artigos do Doutor Finanças com conselhos mais concretos sobre o que deve fazer ao seu dinheiro de sobra.
Nisto de planos e hipóteses de investimento no século XXI, os especialistas em finanças são capazes de ter ideias um bocadinho mais claras do que os idiotismos, os pensamentos, as máximas, os adágios, os rifões acumulados ao longo de séculos pelos portugueses. O que não quer dizer que não lhes continuemos a achar imensa piada e até, por vezes, a encontrar-lhes utilidade. «Uma experiência a mais, uma ilusão a menos», lê-se num dicionário. Esfuma-se assim a ilusão de que este artigo vos diria como e onde investir. Mas até pode ser que a experiência desta leitura possa tê-lo ajudado a encontrar o seu perfil de investidor. Afinal, pertence às pessoas que arriscam (e que podem arriscar…) ou nem por isso?
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A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
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