The Supremes - “Money (That’s What I Want)” (1966)
Nos anos 1960, o grupo de onde sobressairia a superestrela Diana Ross atrevia-se a cantar que o dinheiro, afinal, também podia ter importância para as mulheres. Tudo bem que o ditado lhes dizia que as melhores coisas da vida eram grátis, mas que tudo isso ficasse para as abelhas e os pássaros. O amor (de um homem) podia ser muito excitante, sim senhor, mas esse amor não lhes pagava as contas. Por isso, as moças queriam era dinheiro, muito dinheiro, uma grande quantidade de dinheiro. Uns valentes maços de notas de dólar, estão a ver? Elas estavam conscientes de que a fortuna não lhes traria tudo. Mas não era menos verdade que nunca poderiam gastar aquilo que não ganhassem. Ganância? Materialismo? Superficialidade? Recentremo-nos no que significava para uma mulher, naquela década, naqueles tempos, ter dinheiro próprio em vez de estar dependente do marido: «Agora, dá-me lá dinheiro, muito dinheiro, eu quero ser livre.» Pois é. Antes, como agora, ter dinheiro também significa ter liberdade. Ainda para mais quando se é mulher.
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Gwen Guthrie - Ain’t Nothin’ Goin’ On but the Rent (1986)
O maior êxito da carreira de Gwen Guthrie foi uma canção cujo título acabou por tornar-se uma frase popular entre muitas mulheres das décadas de 1980 e 1990. Poderíamos avançar com diferentes traduções: umas mais literais, estilo "não se passa grande coisa além da renda da casa" ou “o mais importante é a renda da casa”, outras mais tendentes à ideia genérica da impossibilidade de envolvimento amoroso com um homem que não seja capaz de ajudar financeiramente. «Se estiveres desempregado, vou evitar-te.» Aqui, a mulher está à procura de alguém que a possa sustentar. Afinal, trata-se de uma fly girl, uma rapariga que sabe o que quer, que não receia a sua sexualidade, que se veste e comporta de forma sensual. O homem que queira ficar com ela precisa de ter os bolsos cheios de dinheiro. É que ela tem responsabilidades e, como se informa logo no início, os cobradores estão a bater-lhe à porta… A vida é uma coisa muito séria e o amor é demasiado misterioso, canta-se. Por outras palavras, “sem finanças, não há romance”. E sem saúde não há nada. Gwen Guthrie morreu em 1999, aos 48 anos, vítima de cancro.
Destiny’s Child - Bills, Bills, Bills (1999)
O videoclip começa com uma discussão entre um casal: ela (Beyoncé) mostra-se agastada que ele vá até ao local de trabalho dela, pedir-lhe as chaves do carro dela; ele procura justificar-se conforme pode. Finda a discussão, é altura de as clientes do salão de cabeleireiro ouvirem Beyoncé, coadjuvada pelos restantes elementos do grupo, contar-lhes a história dos homens falidos, dos homens sempre cansados, mesmo que não trabalhem, dos homens preguiçosos e esquivos que, em vez de se esforçarem por arranjar um emprego, preferem passar o dia ao telefone ou a dar voltas com o carro da namorada. No caso, o tipo até começara bem, levando-a a sítios fixes. Mas, depois, lá começou a fazer com que fosse ela a pagar tudo… Quando pedia o carro emprestado, para andar às voltas o dia inteiro, devolvia-o sem ter enchido novamente o depósito. E também começou a usar o cartão de crédito dela (estourando o limite em idas ao centro comercial) e a pegar no telemóvel dela para conversar com os amigos ou a mamã.
Quando chegavam as contas, ele fazia-se de parvo, mas o refrão realça que a tonta tem sido ela, por ainda não ter escolhido outro homem. Este que lhe calhou, afinal, não presta para nada. Até teve a audácia de lhe pedir dinheiro emprestado; ele depois devolvia, quando recebesse o próximo cheque… Cansadas de homens parasitas, as Destiny’s Child mandam-nos literalmente dar uma curva. «Consegues pagar as minhas contas de telefone? Pagas as minhas despesas do automóvel? Não me parece que o faças, por isso, eu e tu estamos ACABADOS.»
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Lana del Rey - Money Power Glory (2014)
A versão oficial desta canção de Lana Del Rey não tem videoclip, mas encontram-se versões ao vivo e aplicações da música a cenas de filmes em que o poder, o dinheiro e a glória são temas centrais. Pouco importa sonhar com sítios paradisíacos se não houver forma de concretizar esses sonhos, canta-se. Esta rapariga parece ter uma visão bem clara do que quer dos homens: possuir todo o dinheiro e toda a glória que eles tenham. Como se fosse uma espécie de vampira financeira, disposta a sugar tudo.
Perante a voz melosa mas imponente de Lana, estamos capazes de lhe entregar todos os nossos bens. O que talvez fosse precipitado, pois, nisto de letras, as aparências também enganam. Num par de entrevistas, a autora revelou que a canção, escrita num momento de grande frustração, tinha um fundo de sarcasmo. «Aprendi que seja lá o que for que eu faça acaba sempre por suscitar uma ideia oposta ao pretendido, por isso tenho a certeza de que as pessoas vão pensar que ‘Money Power Glory’ é aquilo que eu realmente quero. Como já sei o que me espera, não há problema em explorar um lado mais irónico e amargo.» Eis como o que nos parece um grito de pura ambição se transforma, sob uma nova luz, numa crítica ao materialismo e à sede de poder que marcam os nossos dias.
Lisa – Money (2021)
Lisa, a performer de origem tailandesa que integra o fenómeno musical sul-coreano chamado Blackpink, deve ser uma das novas estrelas que tem a conta bancária bem recheada. Em 2021, a sua estreia a solo teve como segundo single este Money. No vídeo, como seria de esperar de alguém do mundo do K-pop, a coreografia assume extrema importância; enquanto executa os seus passos, rodeada de um bando de dançarinos, Lisa diz-nos que, após o final do mês, chegado o fim de semana, ela vai gastar o cheque recebido em coisas só para ela. E, face aos números que aparecem quando consulta o saldo da conta, não corre riscos de que as transações sejam canceladas por falta de provimento. Ela tem dólares e wons (moeda da Coreia do Sul) e Yens (moeda do Japão) a caírem de todo o lado e gosta que seja assim. Por isso, compra o que bem entende, sem ter de dar grandes satisfações. Dun, da, la, la, dun-dun, dun, da-la-la, dun-dun. O dinheiro dela, manda, oh se manda. O vídeo ultrapassou os 900 milhões de visualizações e a faixa ultrapassou o mil milhão de streams num serviço de música online. É caso para repetir: Dun, da, la, la, dun-dun, dun, da-la-la, dun-dun.
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