Vai um copo? Debruçados sobre estes jogos de tabuleiros, podemos beber e beber sem qualquer tipo de preocupação. Bem, se calhar, mesmo virtualmente, talvez seja melhor não beber tanto. Vamos precisar de alguma estratégia para superar os desafios económicos que nos vão aparecer pela frente. Mas, claro está, podemos fazer estas viagens bastante relaxados. Se correr mal à primeira… tenta-se à segunda.
Sabes o nosso avô? Tinha uma destilaria!
Em Distilled (2023), cada jogador representa um dos herdeiros de uma destilaria abandonada. Na verdade, ninguém fazia ideia de que o seu parente afastado ainda a tinha… Tinha, sim senhor. Chama-se Dalkeith e está praticamente em ruínas. Em tempos, diga-se, conheceu os seus momentos de glória. Agora, dão-nos sete rondas para reerguer o negócio e voltar a fazer daquele nome uma empresa conceituada no mercado das bebidas alcoólicas.
As rondas sucedem-se com relativa rapidez. Na fase do mercado, adquire-se o necessário para ressuscitar a velha destilaria. Depois, misturam-se os ingredientes à mão, mete-se a bebida num barril e dá-se-lhe o nome. Na fase três, engarrafa-se o precioso álcool, escolhendo com cuidado o invólucro, e faz-se figas para que a bebida venha a ser um sucesso em termos de prémios e de vendas.
Faz-se figas? Não, nada disso; se fizermos bem o nosso trabalho, recebemos valiosos pontos “espirituosos” e dinheiro das vendas, mais uns quantos bónus. Finalmente, vai-se até ao armazém para decidir quais são os cascos em que a deixamos a envelhecer e que ingredientes lhe vamos adicionar, de forma que o néctar no interior ganhe mais sabor e prestígio.
No princípio, bem, aí ficamos pelo básico: a nossa destilaria apenas sabe produzir vodka e aguardente caseira. Temos de aprender muito até chegarmos aos uísques e ao gin, ao soju e ao rum, à tequila e ao brandy, ao pisco peruano e ao lambanog filipino.
O poder das receitas secretas de família
A destilaria gere-se através do tabuleiro do jogador. Para ocupar o escritório, estão disponíveis diferentes identidades; cada personagem guarda o seu segredo de bebida especial, tendo em conta a sua proveniência geográfica, o que ajuda a criar variedade de jogo para jogo. Por exemplo, para fazer “Caninha Cachaça” vai ser necessário um ingrediente especial... A cana-de-açúcar, claro. Ah, e será sempre preciso água e levedura, mais açúcares de várias origens, para criar o álcool através do processo de destilação. Mas, afinal, estamos num jogo ou uma aula de química?!
Felizmente podemos ter a ajuda de especialistas, que sabem tudo do seu ofício. Contratar uma arquiteta, um agricultor, um soprador de vidro pode trazer à nossa companhia o extra de que precisava. Além destes upgrades à velha destilaria, temos uma despensa para os ingredientes, um armazém para os barris e garrafas e um espaço apropriado para as bebidas envelhecerem. Há objetivos secretos que podem dar pontos no final do jogo. Mas também é possível ir ganhando uns dinheiros com visitas guiadas, provas de bebidas e até a venda direta das nossas garrafas. Assim, aos poucos, eis que o nome Dalkeith volta a ser famoso!
E se os vinhos portugueses conquistassem o mundo?
Conseguiremos fazer o mesmo com os vinhos portugueses? É isso que nos propõe o designer de jogos Vital Lacerda, ao pôr-nos na pele de produtor de vinhos. Desta vez, o nosso objetivo é conquistar o mercado além-fronteiras, onde a competição é imensamente feroz. Teremos o que é preciso para fazer do nosso negócio um sucesso internacional?
O jogo desenrola-se ao longo de seis anos (seis rondas), e o nosso trajeto ascendente passa, antes de mais, por estabelecer herdades em diferentes partes do país. Depois, será preciso comprar vinhas, contratar especialistas e esperar que o clima ajude, pois cada ano começa com uma previsão do tempo. Só com condições meteorológicas excecionais se conseguirá, por exemplo, produzir um vintage. Já um ano de céu nublado, ou de chuvas fortes, pode resultar em efeitos devastadores na colheita. Nesses casos, o fator humano e as infraestruturas construídas terão ainda mais importância na qualidade dos vinhos produzidos.
Como as margens de lucro neste negócio podem ser bastante ténues, os jogadores podem aumentar a sua liquidez através de vendas a estabelecimentos locais, como hotéis, casas de fados ou enotecas. Talvez só assim seja possível ir pagando os salários dos empregados e obter fundos que permitam expandir a empresa. Mas para triunfar lá fora? Vai ser preciso mais do que dinheiro; vai ser preciso qualidade e características específicas adequadas a cada mercado.
Região, tempo em cave, fator humano… tudo conta para a qualidade
Como noutros títulos deste designer português, o mergulho temático é profundo e gratificante. No seu turno, cada jogador pode escolher duas de nove opções: comprar vinhas, construir adegas, contratar enólogos e agricultores, construir caves, vender ou exportar vinhos, contratar especialistas vinícolas, anunciar o vinho que se tenciona apresentar na feira nacional desse ano. Depois, é preciso tratar da produção, sendo que o envelhecimento dos vinhos depende de vários fatores. Assim, quando se for vender ou exportar o vinho, há contas a fazer, tendo em conta a qualidade base das uvas, os anos em cave e até a fama de cada região.
E, por falar em regiões, dá um gostinho especial que estejamos a jogar com um tabuleiro que representa o nosso país. Ali estão, à nossa frente, as zonas vinícolas do Minho, Trás-os-Montes, Dão, Douro, Lisboa, Alentejo, Setúbal e Algarve. São os vinhos portugueses à conquista do mundo! Caso para um brinde? É que, se ficar viciado num destes jogos, não virá mal nenhum ao mundo ou à sua vida.
Saúde!
Paulo M. Morais cresceu a jogar futebol de rua e a ouvir provérbios ditos pelas avós. Licenciou-se em Comunicação Social e especializou-se nas áreas do cinema, dos videojogos e da gastronomia. É autor de romances e livros de não ficção. Coleciona jogos de tabuleiro e continua a ver muitos filmes. Gosta de cozinhar, olhar o mar, ler.
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