Cultura e Lazer

Como ganhar ao Monopólio (e depois conhecer outros mundos)

Quando se fala de jogos de tabuleiro quase parece que apenas existe um: o Monopólio. Mas há muito mundo além deste jogo em que se compram ruas e avenidas

Quando se fala de jogos de tabuleiro quase parece que apenas existe um: o Monopólio. Mas há muito mundo além deste jogo em que se compram ruas e avenidas

Quando se fala de jogos de tabuleiro quase parece que apenas existe um: o Monopólio. Mas há muito mundo além deste tabuleiro em que se compram ruas, avenidas e estações de comboio.

Há um par de anos, a Hasbro, companhia detentora dos direitos do Monopólio, anunciava que mais de mil milhões de pessoas já haviam jogado o jogo e que o mesmo estava traduzido para 47 línguas e presente em 140 países. Mas com tanta capacidade de renovação da marca, é provável que os números aumentem, ano após ano. Numa prova de resistência ao tempo e de versatilidade, o tabuleiro quadrado adapta-se a quase tudo; existe Monopólio sobre clubes de futebol, séries televisivas, filmes famosos, desenhos animados infantis, grupos musicais… E será que podemos aproveitar esse jogo, escondido num armário lá de casa, como ferramenta para ensinar alguns conceitos financeiros? Ah, sem dúvida!

As lições financeiras do Monopólio

Num artigo do Doutor Finanças, Natacha Figueiredo mostra-nos 7 lições financeiras que o Monopólio tem para nos dar, e que nem sempre aplicamos na vida real. E, porque se trata de um jogo, mostra-nos também algumas estratégias para se ganhar. Ou, pelo menos, para se ganhar mais vezes, uma vez que, por mais pensamento que apliquemos neste jogo, continuaremos bastante dependentes do resultado dos dados. Aqui, a sorte dita a fortuna e a bancarrota. Tal como também acontece na vida, não é? Ainda assim, nada impede que tentemos afinar a nossa abordagem ao jogo (e à vida), procurando uma maior sustentabilidade. No caso do Monopólio, podemos começar por perceber que, se calhar, o valor das propriedades não está apenas associado ao valor de compra e ao valor das rendas. Há outros fatores a ter em conta. Afinal, em que casas se calha mais vezes?

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As apetecíveis propriedades cor-de-laranja

Já houve quem fizesse estudos estatísticos e aplicasse modelos de inteligência artificial ao jogo para ir dar ao mesmo resultado: a casa da Prisão é aquela em que mais jogadores calham. Faz sentido. Além dos dados, há outras formas de lá irmos parar, seja por rolar dobles uma terceira vez seguida, seja por calhar no quadrado “Vá para a prisão”, que nos manda imediatamente para a cadeia (sem passar na Casa da Partida!), seja por cartas da Sorte ou Caixa da Comunidade a ditarem esse destino. Tendo em conta este facto, de repente, as propriedades que se seguem ao quadrado com as grades da cela, tornam-se especialmente valiosas, pois mais jogadores cairão nesses sítios. O bairro laranja é mesmo apontado como o que mais visitas recebe. Quem diria, à partida, que aquelas ruas rosa e cor-de-laranja poderiam, afinal, ser mais apetecíveis do que as ruas verdes?

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Construir três casas e manter-se pela prisão

Outra dica muito comum passa pela estratégia de construção de casas. No jogo original, existem 32 casas e 12 hotéis disponíveis e, quando este stock se esgota, nada as pode substituir. Encontram-se páginas com o potencial de rentabilidade de cada propriedade, em que se leva em conta o valor da aquisição, o valor de construção das casas e as rendas recebidas; mas uma dica geral dos especialistas passa por se construir três casas em cada propriedade, nos bairros que se detenha, de forma a criar escassez de casas disponíveis. Ou seja, o melhor pode não ser ir logo direitinho ao hotel… Gerir os tempos na prisão também parece ter algum saber. No início do jogo, o melhor é sair rapidamente, por ainda existirem muitas propriedades para comprar. Mas, quando as propriedades já estiverem quase todas distribuídas, ficar o máximo de tempo permitido pela prisão pode evitar que se calhe naquelas casas ou hotéis capazes de nos levarem à bancarrota.

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Dois conceitos chave do jogo: investir e negociar

Para jogadores mais jovens ou menos experientes, o conceito base do jogo – levar os adversários à bancarrota o mais rapidamente –, pode ser difícil de compreender. As crianças, por exemplo, podem ter a tendência de achar que, quanto mais notas tiverem à sua frente, mais estão a ganhar. Porém, o Monopólio exige investimento, primeiro na compra de propriedades, depois no desenvolvimento dos bairros através da construção. Precisa de gerar mais dinheiro para investir? Pois bem, hipoteque propriedades ou negoceie as que não precisa com os adversários. E é na negociação que, muitas vezes, este jogo de família pode azedar… Há jogadores tendencialmente agressivos que, por simples teimosia ou capricho, bloqueiam os negócios. Aliás, diz-se que o Monopólio revela o carácter das pessoas sentadas à mesa, e não é incomum que uma tarde ou noite de jogatana se torne numa batalha feroz.

Fazer negócios com crianças tem também a sua complexidade. Embora a ocasião representa mais uma oportunidade pedagógica, pode ser difícil explicar o valor real das propriedades a serem trocadas ou vendidas. E que mãe não sacrificou o seu próprio jogo, oferecendo tudo de mão beijada ao filho mais novo, só para ele não ficar triste?

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Um jogo capaz de criar um verdadeiro milionário

O jogo original que resultaria mais tarde no Monopólio tinha, na verdade, uma componente pedagógica. E, se durante muitas décadas se perpetuou a história de que fora Charles Darrow a inventá-lo, uma investigadora conseguiu escavar a verdadeira origem, remontando até ao nome de Elizabeth Magie. Afinal, fora uma mulher a criar, em 1903, um jogo chamado The Landlords Game, que pretendia alertar contra os malefícios dos monopólios capitalistas.

Esse tabuleiro começara então a ser copiado, espalhando-se por várias casas e famílias, com as pessoas a criarem as suas próprias versões. Nesse crescimento viral antes da Internet, o jogo assumiu o nome mais genérico de Monopoly. Quando Charles Darrow deparou com o tabuleiro, já se tratava de um jogo extremamente popular; então, ele tratou de fazer a sua própria adaptação e vendeu a patente aos irmãos Parker, enriquecendo à custa dos royalties recebidos pelo resto da vida. E Magie? Apenas teria direito a um cheque de 500 dólares pela patente do The Landlords Game.

Um mundo imenso além do Monopólio

O certo é que o Monópolio aí continua, mesmo numa era de videojogos, internet, redes sociais. No seio da comunidade hardcore dos jogos de tabuleiro, a popularidade será um bocadinho menor… No site de referência Board Game Geeks, em que são os utilizadores a classificar os jogos, o Monopólio ocupa lugares modestos (o ranking vai variando, mas o jogo não está nos 20 mil jogos mais bem cotados; e, na categoria de jogos de família, há mais de 2500 jogos mais bem classificados…).

A simplicidade, o fator sorte, e as muitas regras caseiras que aumentam o tempo de uma partida quase até ao interminável (como por exemplo, as injeções de capital no jogo quando se decide que os impostos e taxas são postos no centro do tabuleiro sendo esse dinheiro reclamado pelo primeiro jogador a calhar no quadrado “Estacionamento Livre”), são algumas das características menos apreciadas pela comunidade.

Pois bem, vejamos esta má classificação como uma boa notícia. É que isso significa que há um mundo inteiro de jogos de tabuleiro, repletos de mecanismos e estratégias assentes em conceitos económicos, ainda por explorar. E estamos certos de que vai ser um momento daqueles, quando alguém pousar em cima da mesa um jogo de tabuleiro diferente…   

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Paulo M. Morais cresceu a jogar futebol de rua e a ouvir provérbios ditos pelas avós. Licenciou-se em Comunicação Social e especializou-se nas áreas do cinema, dos videojogos e da gastronomia. É autor de romances e livros de não ficção. Coleciona jogos de tabuleiro e continua a ver muitos filmes. Gosta de cozinhar, olhar o mar, ler.

A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.

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