Ariana Grande – “7 Rings” (2019)
Adotando uma iconografia com toques nipónicos, o vídeo vira de pernas para o ar o universo de ostentação dos rappers. Aqui, neste mundo vestido de cor-de-rosa, violeta, branco, as mulheres dizem tchau aos homens. Fiquem lá entretidos com os vossos clips cheios de mulheres, notas a esvoaçarem, colares com cifrões dourados, carros desportivos… Aqui mandam as mulheres, e não precisamos de vocês para comprar joias ou dar festas com fontes de taças de champanhe. Ariana Grande e as suas amigas também podem ter mansões e luxos. Ganhou esse direito com o seu trabalho. Tem essa liberdade, esse poder. Guarda na carteira o seu cartão bancário preto, exclusivo para VIPs, que lhe permite comprar tudo aquilo de que gostar. Se ela quer isto, ela tem. Se ela quer aquilo, ela tem. Quase nos pede desculpa, por não querer gabar-se ou soar pretensiosa, mas dá-lhe prazer dizer bem alto que não precisa do dinheiro dos homens para nada. «Eu passo os meus próprios cheques, tal como escrevo aquilo que canto.» Yeah!
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Cardi B – “Money” (2018)
Abram alas a Cardi B e à dúzia de mulheres que a acompanham neste vídeo com nudez explícita e de estética apurada, a representar um mundo delas. São as mulheres que assaltam bancos, dão de mamar, vestem lingerie provocante, dançam no varão, ostentam a sua sexualidade sem vergonha ou decoro. O champanhe, aqui, flui sem contenção, tal como a sensualidade das coreografias. Aos homens resta o papel de velhadas da alta sociedade, “chocados” com aquilo a que assistem, ou então serem um contabilista de viseira na testa. Estão para ali, caquéticos, entretidos a contarem notas. De quem? De Cardi B e das restantes mulheres. Todo este luxo é delas. «Não há neste mundo nada de que eu goste mais do que cheques», diz Cardi. Ela, aliás, assegura que só quer ver dinheiro, e que dinheiro é tudo de que uma tipa durona precisa. O que até dá jeito para quem confessa na letra que foi feita para usar diamantes ao pescoço e viajar em jatos privados. Pelo meio, sem rodeios, também refere que gosta de sexo matinal. Mas pelo menos nesta canção, do que ela gosta mesmo, mesmo, mesmo muito… é do dinheiro. Woo!
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Fergie - “M.I.L.F. $” (2017)
Parece que voltámos aos anos 1960. Um distribuidor de leite engarrafado, que achou por bem chamar à sua companhia Milfman - Mothers I'd Like to Follow (um trocadilho ao significado original, totalmente sexual, do termo M.I.L.F.), percorre na sua carrinha um bairro cheio de clichés do século passado. Lá vai passando pelas mães de família, de lenços na cabeça e vestes modestas, ocupadas nos esperados comportamentos de podar o jardim, fazer exercício para estar em forma para o marido, tratar do pequeno-almoço das crianças. Porém, aos poucos, a estranheza vai-se entranhado naquele mundo idealizado pelos homens. O jovem leiteiro não demora muito a notar que aquelas mulheres – seja a darem de mamar ao bebé ou a meterem os filhos no carro para os levarem à escola –, afinal, não são assim tão “apagadas”. Elas mostram-lhe que, lá por serem mães, não perderam o seu lado sexual.
Quando surge Fergie, já o leite está entornado. E, se é certo que o leiteiro lá vai ganhando o seu dinheirinho a deixar garrafas à porta das pessoas, aquelas “novas” MILF, emancipadas, também sabem ser autónomas. São mulheres maduras e independentes, que trabalham a semana inteira e depois têm o direito – e o poder financeiro – de se mimarem com cabeleireiras e manicures, banhos de imersão em leite de burra, massagens feitas por homens jovens e atraentes. Têm estilo porque são, e soletre-se letra por letra, I-N-D-E-P-E-N-D-E-N-T-E-S, por ganharem o seu próprio dinheiro. E Fergie, entre várias imagens metafóricas sobre sexo, assegura ao atarantado leiteiro que jamais voltará aos tempos de não ter cheta. Portanto, vai mais um êxito mundial para calar as más-línguas ou os homens que querem voltar a brincar às donas de casa recatadas? Bling!
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Rihanna – “Bitch Better Have My Money” (2015)
O aviso inicial diz logo que o programa que se segue contém palavrões, nudez e violência. Aconselhada a discrição ao espectador – ou, por outras palavras, um “veja por sua própria conta e risco ou então, se acha que vai ofender-se ou ficar atormentado, siga antes para uma cantata de Bach ou um vídeo de gatos fofinhos” –, fica também o nosso alerta: isto é mesmo forte. Explícito. Mas não nos apanham a cair no erro de dizer que é para homens de barba rija… São sete minutos de filme poderoso, a começar pela exibição da típica trophy wife. Ela com o seu poodle, os seus colares de diamante, a sua mansão luxuosa, os seus cabelos louros. Raptada por Rihanna e o seu gangue, a mulher vai ser torturada das maneiras mais cruéis e imaginativas; elas são tão espertas e cool que até conseguem interpretar o polícia interpretado pelo ator Eric Roberts.
A violência chega a parecer um bocado gratuita até se começar a perceber a história de fundo, quando Madds Mikkelsen surge no ecrã. O ator, que frequentemente interpreta nos filmes em que entra a personagem do psicopata ou do homem obstinado, é afinal o marido da mulher raptada. Mas, mais do que isso, ele é “O contabilista”, também conhecido por “The Bitch” (isso mesmo, o do título da canção). Pelos vistos, terá roubado dinheiro a Rihanna; depois, percebe-se que rejeitou o pedido de resgate para poder reaver a mulher-troféu. Preferiu ir gastar o dinheiro da antiga cliente com festas e outras mulheres. Pois bem, esperamos que se tenha divertido. Chegou o tempo de pagar as dívidas, e com juros de vingança. Amarrado a uma cadeira, o contabilista burlão já entendeu, num esgar de horror, o destino que o espera. Ela bem avisou: «É melhor que tenhas o meu dinheiro, cabrão. Paga o que me deves.» Meteu-se com a mulher errada, não foi? Ugh!
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