Em The Rich and the Good (2008), jogo de estratégia económica centrado no mercado bolsista, pede-se aos participantes que invistam no mercado de matérias-primas, comprando carvão, trigo, café, borracha, chá e sal, e manipulando os preços de mercado, através de informações privilegiadas (ou seja, cartas). Objetivo? Gerar o lucro máximo, claro, numa batalha em que todos tentam contrariar as intenções dos adversários. O jogo funciona num misto de estratégia e de intuição, mas teríamos de o rotular de demasiado básico, se não houvesse mais um detalhe a ter em conta: é que não bastará aos negociantes ficarem podres de ricos para que a Alta Sociedade lhes abra as portas. Quem quiser ser um membro da elite, terá igualmente de se preocupar com a sua reputação, pois, como revela o slogan do jogo: A riqueza é boa. Mas é melhor riqueza e respeito.
Não se esqueçam das benfeitorias
Para ganhar este respeito por parte dos pares, os jogadores têm de provar o seu altruísmo, através de doações para obras de caridade. Sim, é verdade que um comerciante egoísta pode ficar imensamente rico; mas, pelo menos neste jogo, se não der o suficiente da sua fortuna pessoal aos mais desprivilegiados… Às vezes, dava jeito que a vida real pudesse imitar as premissas dos jogos de tabuleiros. Ah, se a luta pela compra de matérias-primas fosse também uma luta para ver quem seriam as pessoas mais bondosas. Ou então uma competição entre os multimilionários para apurar o mais benemérito de todos? Mas, calma, desçamos ao mundo dos tabuleiros, que isto também não é nenhuma corrida para ganhar o prémio Madre Teresa de Calcutá. Aqui há jogo bolsista, e, nessa parte, só não vale cortar gargantas.
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Dormir rico e de consciência tranquila
Uma partida de The Rich and the Good desenrola-se numa sucessão de turnos. Na fase das ações, os jogadores compram ou vendem matérias-primas, e também podem ir doando alguma da sua riqueza acumulada. Depois, na fase de manipulação do mercado, escolhem-se e revelam-se cartas que alteram o valor das matérias-primas. Ajustados os preços, o mercado fica pronto para nova ronda de comércio de ações. Tenta-se comprar em baixa, claro está, para depois vender as nossas mercadorias em alta. No final do jogo, as ações que foram sendo doadas para caridade são vendidas (de acordo com os preços tabelados), e será a soma do dinheiro generosamente cedido aos mais necessitados a ditar quem fica imediatamente eliminado e quem ainda terá hipótese de reclamar a vitória. Castigado o forreta, vence, então, o que tiver a maior fortuna. E, por ter dado o seu contributo particular à sociedade, o sucesso será celebrado com uma noite bem dormida.
Ah, mas e se não quiser desfazer-me do meu dinheiro?
E no dia seguinte? Pois bem, podemos descartar isso de ter a consciência tranquila e vestir uma pele com menos escrúpulos… Desta vez, seremos investidores em Stockpile (2015), jogo de tabuleiro que pretende combinar a estratégia tradicional de comprar em baixa e vender em alta com um par doutros mecanismos. Estamos em finais do século XX, e os participantes no mercado bolsista estão ávidos em enriquecer. Mais uma vez, há informações privilegiadas que vão sendo sopradas aos competidores. Ao saberem secretamente o que vai acontecer a uma dada ação, os investidores poderão delinear antecipadamente a sua estratégia de ataque ao mercado. Comprar e vender na devida altura será meio-caminho andado para a vitória. Mas atenção ao fator aleatório e à competição direta dos leilões.
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Leilões, manipulação, compra e venda… ufa!
Repartido em várias rondas, Stockpile começa por criar uma oferta do mercado, constituída por cartas de ações de empresas e taxas de negociação. Formadas as pilhas de ação, dá-se início ao leilão, numa sucessão de lances até que sejam encontrados os compradores das pilhas. Pagam-se as eventuais taxas, adicionam-se as cartas obtidas às respetivas carteiras de ações e, por fim, manipula-se o mercado, criando subidas e descidas vertiginosas na cotação das empresas. Tendo em conta as informações privilegiadas do início, é altura de vender as ações certas, no momento certo. E, porque o mercado bolsista nunca será algo de estático, após esta multiplicidade de transações, o preço das ações volta a sofrer oscilações, umas previsíveis, outras surpreendentes, podendo até dar-se o caso de surgirem falências ou pagarem-se dividendos.
Após a última ronda, os investidores revelam o seu portefólio, e, determinados os acionistas majoritários de cada empresa, efetua-se o pagamento dos respetivos bónus. Depois, a carteira de ações é vendida ao preço tabelado, e, concluído o somatório, vence quem tiver a maior fortuna. E aqui, nada de solidariedade. O que é meu, é meu; o que é teu, é teu.
E agora, vamos lá ser uns escroques
Stockpile inclui várias expansões que procuram dar complexidade ao jogo, como é o caso da adição de cartas de Promissórias (que permitem investir dinheiro, sem risco associado, para ganhar juros), bem como cartas de Matérias-Primas (que aqui são ouro, platina, petróleo, gás natural, milho e gado) e cartas de Imposto. A expansão "Investimento Ilícito" junta ainda cartas de diferentes estratégias de investimento (há desde "Espionagem empresarial" a "Transferência fraudulenta", passando por "Diversificação" ou "Dividendos Especiais", entre outras), que representam ações adicionais que os jogadores podem tentar capitalizar no decorrer da partida.
É caso para dizer que, nesta expansão, decididamente, não há beneméritos. Talvez até sejamos todos um bocadinho intrujões. Mas, enfim, mais vale sê-lo em redor de um jogo de tabuleiro, não acham? Portanto, vamos lá mas é concentrar-nos no que se pode fazer com a estratégia de investimento “Ganhos falsificados” que nos calhou em sorte…
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