Cultura e Lazer

Mulheres que trabalham no duro

Elas não param de manhã à noite para receberem uma miséria ao final do mês. E, se há quem denuncie estas injustiças, também há quem afirme já dominar a situação.

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Mulheres que trabalham no duro

Elas não param de manhã à noite para receberem uma miséria ao final do mês. E, se há quem denuncie estas injustiças, também há quem afirme já dominar a situação.

Dolly Parton - “9 to 5" (1980)

Mesmo que seja um cliché, as imagens de mulheres apressadas para irem para o trabalho, sempre de olhos postos nos ponteiros do relógio, a viverem cada segundo stressadas, não deixam de ter um cunho realista.É assim que começa o videoclip desta canção em redor de uma mulher trabalhadora, neste caso com um horário de escritório bastante decente. Mesmo que o típico “das 9 às 5” não nos pareça exagerado, Dolly Parton – que ora vai aparecendo toda sorridente no estúdio de gravação, ora em cenas do filme com o mesmo título do tema – assegura-nos que este meio de ganhar a vida é especialmente difícil quando se é mulher. Os patrões sugam tudo e em troca pouco dão; o salário de secretária, bem vistas as coisas, mal dá para pagar as contas. E, além disso, os homens que mandam nelas são manipuladores. Nunca dão crédito ao trabalho das suas funcionárias e barram-lhes as promoções merecidas pelo mérito. Elas não passam de um degrau na escada do patrão; esfalfam-se e, no fim, o dinheiro vai parar à carteira dele. «Se deixarmos, é o suficiente para nos levar à loucura».

Mas então porque é que Dolly nos aparece tão contente? Bom, talvez por representar a outra parte da letra, a da mulher que ouviu a sua voz interior e quis assumir as rédeas do seu destino, moldando um negócio próprio, acreditando nas suas capacidades. Dolly Parton venceu no mundo da música country, então dominado pelos homens. Para tamanho passo, talvez tenha sido necessário que ela mantivesse aceso o sonho de ser cantora e que, a dado momento, se tenha servido a si mesma «uma chávena de ambição», como refere o tema. Um dia, a maré haveria de mudar para a mulher trabalhadora. E vai mudando, aos poucos. Vai mudando.

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Donna Summer - She Works Hard For The Money (1983)

Uns anos depois do filme “Das 9 às 5”, o panorama das mulheres trabalhadoras continuava a não ser famoso. Neste tema de Donna Summers, a protagonista do teledisco, chamada Onetta, acorda de madrugada ao som do despertador. O dia de trabalho começa com limpezas, mas às nove da manhã já está no segundo trabalho, a servir às mesas. Mesmo assim não chega, e ela, depois de muitas horas de trabalho e cansaço acumulados, ainda precisa de encontrar forças para ir para a fábrica e sentar-se à frente de uma máquina de costura. Chega a casa estourada, mas nem os filhos lhe facilitam a vida. Adormece sem energia para tirar a roupa. Na madrugada seguinte, o ciclo repete-se.

Criava-se assim um hino a exaltar os sacrifícios feitos pelas mulheres trabalhadoras. Mesmo que a paga fosse pouca, nunca baixariam os braços. A letra diz-nos que se Onetta conhecia os tempos maus, também sabia que existiam tempos bons; por isso, nunca venderia a sua dignidade e continuaria a trabalhar no duro. E, nos raros segundos de pausa, pôr-se-ia a pensar na estranheza de algumas pessoas terem tanto, enquanto outras se matavam a trabalhar para ganhar umas gorjetas. Não merecia um melhor tratamento quem se esforçava assim tanto?

Donna Summer disse que a canção se inspirava numa história real. Numa festa posterior aos Grammy, ela encontrara uma empregada de limpeza a dormitar. A mulher chamava-se Onetta e contou-lhe que estava muito cansada, pois tinha dois trabalhos. Foi num rolo de papel higiénico que a artista escreveu as primeiras ideias para a letra. O final do videoclip, em que várias mulheres de diferentes profissões – empregadas de mesa, polícias, enfermeiras, domésticas, etc. – se juntam para dançar no meio da rua representa um breve momento de liberdade nas suas vidas atribuladas. Mais do que isso, aquela dança simboliza que elas conseguiram vencer os obstáculos à sua frente. Sobreviventes da tormenta, ei-las prontas a vencer na vida e a serem felizes. Assim os homens as deixem.

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Miss Elliot - “Work It” (2002)

Vinte anos depois, o mundo efetivamente mudou alguma coisa, mas não o suficiente para que as cantoras – e as mulheres em geral – possam deixar de denunciar as injustiças entre géneros. Em “Work It”, Missy Elliot enfrenta os estereótipos masculinos do hip hop, usando os mesmos fatos de treino, bonés, sapatos de ténis, os mesmos medalhões ao peito, e fazendo dos homens seus objetos sexuais. O videoclip, que em 2003 obteve dois Prémios MTV, dá primazia à dança, entre cenas meio surrealistas e outras que procuram ilustrar os versos cantados; mas, se há imagens da bela vida, como as refeições em restaurantes finos ou os tipos ao volante de carros vistosos, elas servem unicamente para passar uma mensagem de força das mulheres. Isto são mulheres fortes e livres.

Entre as várias leituras da insinuante, críptica e explícita letra, sobressaem as que apontam para a inversão do jogo sexual (com o poder a passar deles para elas) ou as que apontam para a ideia de que as mulheres não devem ter vergonha do modo como ganham a vida, seja num emprego das nove às cinco ou como trabalhadoras sexuais. Mesmo que um dos versos diga «não sou uma prostituta, mas podia dar-te o que queres», o que importa é que as mulheres ganhem o seu próprio dinheiro para ficarem no controlo da situação. «Façam a vossa cena, mulheres, sem vergonhas», diz Missy Elliot, para não ficarem dependentes dos homens. Apetece repetir: isto são mulheres fortes e livres.

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