Cultura e Lazer

Querem ver que isto do trabalho vai dar… trabalho?! – Vol. 1

Isto dos provérbios sobre “trabalho” parecia coisa simplicíssima. Mas, afinal, o assunto tem muito que se lhe diga. Acho até que vai dar algum trabalho. Bolas.

Isto dos provérbios sobre “trabalho” parecia coisa simplicíssima. Mas, afinal, o assunto tem muito que se lhe diga. Acho até que vai dar algum trabalho. Bolas.

Governar um país é uma tarefa ciclópica. Governar uma empresa é coisa incrivelmente complexa. Governar uma casa também é difícil. Até governar um só dia numa vida, enfim, dá algum trabalho. Tudo isto requer competência, sabedoria, equilíbrio, etc., etc., etc. E trabalho. Muito trabalho.

Para nos ajudar, não faltam ditados populares sobre o assunto, ainda por cima dividido em múltiplas categorias, variados ângulos, eu sei lá. Uma coisa, em tempos, parecia certa: "sem trabalho nada se faz". Mas às vezes, perante certas notícias, dá que pensar se ainda será assim… Os antigos também diziam que "o trabalho não mata ninguém", mas isso, de facto, nunca foi verdade. Ou os acidentes de trabalho são coisa do século XXI?

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O empreendedorismo é coisa antiga

Calma, que nem todos os provérbios soam tão desfasados do tempo e da realidade. Há alguns que até se encaixam perfeitamente numa palavra bem atual: empreendedorismo. Comecemos por "chegar a brasa à sua sardinha", expressão que, segundo Paulo Perestrello da Câmara, na sua “Coleção de Provérbios, Adágios, Rifãos, Anexins, Sentenças Morais e Idiotismos da Lingoa Portugueza” (1848), significa “trabalhar para si”. Na “História Geral dos Adágios Portugueses” (1924), Ladislau Batalha listava outra forma de incentivar alguém a ser empreendedor: "Quem quer bolota, trepa".

O mais complicado, se atentarmos nos provérbios, está mesmo no arranque. "Ter começado é meio caminho andado", pode ser, por isso, o empurrão de que se precisa. E, enfim, aquilo que se vai empreender não precisa de ser sempre uma coisa grande e complexa. A famosíssima expressão "fazer um biscate" assim o indicia, e a explicação do Dicionário das Seleções do Reader’s Digest confirma-o: fazer um biscate “é o mesmo que fazer um serviço extra, de pequena monta, por conta própria, em suas horas vagas, a fim de ganhar mais um dinheirinho”. Mas e biscate, que significa propriamente? “É uma migalha, ou pequena porção de alimento, que as aves levam no bico para os filhos”.

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Anúncio de trabalho: “Especialistas, precisam-se”

Nisto dos biscates, no entanto, convém que o trabalho seja bem feito. É que "pela obra se conhece o obreiro", e, atualmente, arranjar um especialista nalgumas áreas é um verdadeiro achado. Às vezes, eles aparecem, como o Sr. Manuel, canalizador de profissão (ou picheleiro, como também se diz pelo Norte). "Aqui se fia muito fino", bem podia ser o lema dele. E, felizmente, contamos com Perestrello da Câmara para nos traduzir a expressão: “obra-se com extrema atenção, com muito desempenho do dever”. Será também o caso do Sr. António, cuja tarefa é "mastigar marmelada para os tísicos", que, na definição do mesmo dicionário de 1848, era o que se dizia “de quem tem emprego mecânico, mas rendoso”?

Mas cuidadinho com os faz-tudo. "Homem de sete ofícios, em todos é remendão", avisa o povo. Ou, de forma ainda mais direta, "cada macaco no seu galho", que o Dicionário de Provérbios, Locuções e Ditos Curiosos do Reader’s Digest refere como uma forma de dizer “cada homem na sua função, ou no ofício que lhe compete, sem interferir nas responsabilidades dos outros e sem perturbar o trabalho alheio”.

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Mas eu pedi ajuda, pedi?

Chegados aqui, tenho de dizer que volta a meia estou a ser interrompido por um colega que vem deixar-me na secretária bilhetinhos com sugestões… E agora apareceu mais um, a debruçar-se sobre o ecrã, a dar bitaites, escreve isto, põe aquilo… Mau. "Trabalho comum, trabalho de nenhum", digo-lhes, mas eles contrapuseram com aquele da "união faz a força". Vou tentar outra vez: "Vale mais um a fazer, que cem a mandar". Resultou. Foram-se embora, mas chateados. Dizem que só tenho bazófia, e que sozinho não vou conseguir acabar o trabalho a tempo. "Do dito ao feito, vai muita diferença", grita um. "Enquanto não acabes, não te gabes", acusa o outro, que me acha um fanfarrão. "Depressa e bem, há pouco quem", relembra o primeiro.

Até tem alguma razão. Ainda estou longe de acabar e até comecei bem a tempo, logo de manhãzinha. Devia era ter lido aquele anexim que já avisava: "Nem por muito madrugar, amanhece mais cedo." Estou a ver que isto dos rifões sobre trabalho vai dar pano para mangas. Vai dar trabalho, é o que é.

Que seja: "o que não se faz de uma vez, faz-se em duas ou três."

Paulo M. Morais cresceu a jogar futebol de rua e a ouvir provérbios ditos pelas avós. Licenciou-se em Comunicação Social e especializou-se nas áreas do cinema, dos videojogos e da gastronomia. É autor de romances e livros de não ficção. Coleciona jogos de tabuleiro e continua a ver muitos filmes. Gosta de cozinhar, olhar o mar, ler.

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