Com música e grafismo a evocarem concursos televisivos em que se gira uma roda da sorte, este Bummer! quer pôr-nos à prova no mundo dos azares da vida. E, no entretanto, tentar que fiquemos com umas noções mais aprofundadas acerca dos nossos seguros, cuja papelada enterrámos numa gaveta qualquer.
O objetivo de Bummer (que poderíamos traduzir por “Que chatice!”) é sobreviver a quatro rondas sem ficarmos com a conta bancária a zeros. Para tal, vamos precisar de seguradoras que nos ajudem quando o azar nos bater à porta; porém, é preciso fazer contas prévias, pois, se o seguro pode vir em nosso auxílio, também acarreta custos fixos.
As diferentes rondas estão construídas em redor de diferentes tipos de seguro. Pedem-nos que tenhamos em atenção cada detalhe – as letras miudinhas dos contratos –, pois cada ramo tem as suas próprias características. Para aliviar o peso das decisões, o jogo acrescenta um pouco de humor à realidade, com deliciosas descrições dos acidentes. Preparados?
Tantas opções para nos confundir a cabeça…
Começamos com o nosso cão. Chamemos-lhe Snoopy. Pois bem, nada de arriscar a nossa sorte – e a dele –, e toca de fazer um seguro. Porém, o aparentemente simples complica-se ao vermos que nos propõem quatro escalões de seguro, que vão do mais básico até ao mais completo. Nós gostamos muito do Snoopy, mas a diferença de dólares mensais é enorme, entre os 25 do plano Básico e os 300 do plano Deluxe. Tudo bem que temos cinco mil dólares na conta e talvez não precisemos de ser forretas. Por outro lado, ainda estamos na primeira ronda. Sabe-se lá o que teremos pela frente? E lá vamos nós ler as coberturas, as franquias, os limites associados a cada opção. Afinal, é para isso que o jogo serve.
No seguro básico, por exemplo, a franquia (o que temos de pagar para acionar o seguro) são 2 mil; no Deluxe, são só 50 dólares... Escolhido o plano, neste equilíbrio entre o que podemos gastar e os riscos que assumimos correr, ainda temos de decidir sobre as opções adicionais. Há para todos os gostos. As que cobrem vacinas e visitas de rotina ao veterinário, as que cobrem infeções de parasitas, as que seguram os acidentes com o focinho do nosso animal… À partida, há coisas que nos parecem bastante improváveis. Proteger-lhe o focinho? Não vamos gastar dinheiro nisso.
Porta-te bem, meu adorado cãozinho
Já com o nosso seguro contratualizado, seguimos para a roda da sorte. Enfrentamos um mínimo de quatro giros. À primeira rodada, sai-nos logo uma grande chatice. O Snoopy pôs-se a perseguir um esquilo, foi de encontro a uma árvore e… partiu o focinho. Como não tínhamos escolhido essa proteção adicional, lá custeámos a operação por inteiro: menos dois mil euros na conta. Olha que esta… Bom, segunda rodada, e o ponteiro calha numa casa que nos dá a hipótese de ganharmos dinheiro, caso acertemos numa pergunta relacionada com o universo dos seguros. Os cuidados com os dentes do nosso animal estão incluídos no plano básico que assinámos? Respondemos que não. De facto, isso é um plano à parte, esclarecem-nos, e dão-nos uns miseráveis 100 dólares por termos acertado…
Na terceira rodada, calha-nos o símbolo do trevo. Neste caso, o azar foi ter desaparecido o controlo remoto da televisão. Foi visto pela última vez há dois dias, algures pelo sofá. Está visto que... Pois. Snoopy, seu grande maroto! De qualquer forma, apenas um pequeno contratempo. E da quarta vez que giramos a roda? Sai-nos outra “Grande Chatice”. Os cães são espetaculares, mas também podem ser um bocado tolos. O nosso comeu 50 pedras. Porquê? Nunca saberemos. Mas, como nenhum estômago é capaz de digerir uma pedreira, lá temos de ir ao veterinário para ele as tirar. A fatura da brincadeira? Quatro mil dólares! O nosso seguro paga metade, mas apenas se acionarmos a franquia, que, para este caso, nos leva dois mil da conta. Tínhamos cinco mil ao princípio, não era? Mesmo com a adição do bónus de sobrevivência à primeira ronda, já só temos 2000. Isto vai ser impossível, não vai?
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Atenção às coisas que vêm do espaço!
Pelo sim pelo não, resolvemos escolher todas as coberturas adicionais no seguro seguinte, ligado à casa onde vivemos. Essa opção aumenta o nosso prémio de uns simples 50 dólares por mês para 290. Mas, caramba, assim estamos seguros contra meteoros, invasões alienígenas, comida estragada no nosso frigorífico, lobos maus que querem soprar o nosso telhado, estrelas do rock a quem damos guarida e nos partem tudo num acesso de loucura, e até danos nas paredes provocados por pontapés de karaté ou furos de pregos e parafusos. Lá seguimos confiantes para a roda, e a primeira chatice até é simpática, apenas um corte de cabelo que correu mal, mas pronto, volta a crescer. Já a segunda… Roubaram-nos o telemóvel durante um festival, mas o seguro cobriu 400 dólares da perda, a troco do pagamento dos 100 da franquia. E que dizer da terceira rodada? Um meteoro que cai mesmo em cima da nossa casa. Felizmente, tínhamos adicionado a opção “Coisas-do-Outro-Mundo”. A ronda finaliza-se com mais uma pergunta sobre seguros.
Continuamos vivos, mas o apresentador de Bummer! apressa-se a avisar que o seguro do carro vai ser mais complicado. E, de facto, com limites por condutor, por passageiros, por veículo, com acrescentos para o caso de a outra pessoa envolvida no acidente não ter um seguro adequado, com coberturas além dos acidentes de viação (como fogo, roubo, tempestades, árvores que caem...), e opções específicas para quando a culpa da colisão for nossa… Sim, o mundo dos seguros é realmente complexo.
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Dragões que cospem fogo sobre o nosso carro? Temos seguro
Como não estamos falidos, optamos por um plano moderado: 200 dólares por mês. E ainda acrescentamos assistência em viagem, o nosso já adorado Coisas-do-Outro-Mundo, e as coberturas para acidentes provocados por TikTok, danos causados por dragões ou fendas que se abrem no solo e engolem o nosso automóvel. Ao todo, 430 dólares mensais. Até doi!
Giramos a roda. Sai uma pergunta e ganhamos mais 100 dólares. Na rodada dois, o trevo dá-nos uma chatice sem grande significado. Sabem aquele casal de celebridades que idolatrávamos? Anunciou a separação. Isso equivale a deixarmos de acreditar no amor, mas pelo menos não tem qualquer impacto na nossa conta bancária. Na terceira jogada, após uma noite mal dormida por causa de uma terrível tempestade, acordamos com um enorme estrondo. Ao espreitarmos pela janela, vemos uma árvore caída sobre o nosso carro. Lá voam mil de franquia para o seguro nos pagar 9000 dos danos provocados pela acácia tombada. Giramos a roda mais uma vez e falhamos a pergunta que nos saiu. Resultado? Temos de girar a roda uma vez extra. Acabamos por ter sorte: apenas um pequeno contratempo. Adormecemos de manhã e falhámos o pequeno-almoço combinado com os nossos amigos. Eles ficaram aborrecidos, nós não comemos as panquecas, mas que interessa isso? Ultrapassámos nova ronda do jogo!
Sobre as alturas em que os azares se acumulam…
No nível final é tudo ao molho e fé em Deus. Há chatices de todos os tipos, num autêntico salve-se quem puder. Para nos precavermos, temos de escolher seguros dos três tipos que já conhecemos – para o animal, para a casa, para o automóvel – e aguentar seis giros da roda. Devem estar loucos… Primeiro giro: sai pergunta, acertamos, dão-nos 100 dólares. Segundo giro: o nosso adorável Snoopy, num daqueles acessos de hiperagitação, achou que conseguia saltar entre uns rochedos e… uma pata partida. Em troca da franquia, o seguro lá pagou a consulta, o gesso, essa coisada toda. Ficamos só com 1095 na conta... Terceiro giro: a casa do vizinho incendiou-se. O fogo, ufa!, não alastrou à nossa, mas o fumo entranhado nos tecidos obriga-nos a substituir sofá, roupas, cortinados... Estamos bem, estamos bem: pagamos 100 de franquia e o seguro cobre os 5000 de prejuízo. Querem ver que vamos conseguir?
Vamos lá, mais um giro! Sai pergunta: Qual é o termo para um problema de saúde que já tenha sido diagnosticado e/ou tratado antes da tomada de um novo seguro de saúde? Respondemos “condição pré-existente”, e ganhamos 100 dólares. Subimos para 1095 outra vez! Está quase! Quinto giro: o carro não pega, pedimos ajuda a um vizinho que sabe de mecânica e, ao abrirmos o capô, ficamos de boca aberta perante o espaço vazio. Nem sabíamos que era possível roubar um motor inteiro! O rombo ascende aos cinco mil, mas, com o nosso seguro, só pagamos a franquia de 100 dólares.
O raio nunca cai duas vezes no mesmo sítio?
Eis-nos no último giro. Calhamos num evento de casa e informam-nos de que fomos alvo de uma visita de extraterrestres. Estes até eram bem simpáticos, embora um bocado desastrados: espatifaram a nossa porta de correr de vidro e deixaram as roupas e as mobílias cheias de gosma. A fatura final da visita intergaláctica ascende aos 10 mil dólares. E querem acreditar que, desta vez, não tínhamos feito a opção pelas Coisas-do-Outro-Mundo que nos salvara anteriormente? Simplesmente não acreditámos que o raio poderia cair duas vezes no mesmo lugar. Mas caiu, e agora não temos seguro para nos ajudar, nem há dinheiro suficiente na conta para cobrir os danos. Game over, portanto. Perder na última rodada? Que grande chatice!
O apresentador do concurso pergunta se queremos jogar outra vez. Nem por isso. Talvez seja preferível fechar o computador e ir buscar as papeladas dos seguros que temos, a fim de averiguar, linha a linha, as letras miudinhas, as coberturas, as franquias... Isso não nos muda a sorte e o azar da vida. Mas pode deixar-nos mais conscientes dos desastres que, se nos acontecerem, pelo menos não nos levarão também à bancarrota. E isso talvez nos deixe menos ansiosos com uma série de eventos que somos incapazes de controlar. Quer queiramos, quer não, há coisas que nos escapam. Sermos alvo de duas desgraças vindas do espaço? Enfim... Esperemos que tamanho azar seja mesmo só coisa de videojogo didático.
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