Estava tão focado na saúde financeira (dos portugueses) que vacilei. Dei por garantida a minha saúde mental. Mas não o é. Nem a minha, nem a de qualquer um de nós. Já passaram alguns anos. Confesso que tendo a esquecer o que de menos bom me vai acontecendo, mas neste capítulo escolho não o fazer. Não posso. Por nós e pelos nossos, não podemos.
Recordo-me, aqui e ali, dos sintomas. Estava lá tudo. Estão sempre. Mesmo que os ignoremos.
O burnout foi chegando de mansinho e quando tomou conta de mim, senti que estava a desmoronar. No meu caso, toda a azáfama do trabalho, o chamar a mim as mais difíceis frentes de batalha, toda a tensão e exaustão acumuladas numa fase de duras negociações... esgotaram-me. E um certo dia, rebentei.
Sentia-me esgotado, destruído. Ainda que nos pareça que os braços baixam sem que os consigamos impedir, algo em mim continuava a impelir-me para vir ao de cima. Qual era o caminho? - perguntava-me vezes sem conta. O caminho era um só: para cima. Rumo aos meus. De volta aos meus sonhos.
Dei início ao processo de recuperação. Procurar ajuda de quem nos rodeia é fundamental, mas contar com ajuda dos especialistas, é crucial. Seguiram-se consultas de psiquiatria regulares, seis meses de medicação e, sobretudo, rodeei-me de muita felicidade.
Olhando para trás, não sinto que tenha feito algo de especial para sair daquele buraco. Ainda assim, sei que fiz a minha parte. É todo um processo. É doloroso (não só para nós), mas, no meu caso, foi possível ir sentindo que tudo estava a fluir. A vida ganhava progressivamente leveza. E eu, voltava a mim. Mais forte.
Uma força que hoje entendo ter muito da boa energia que emanava das pessoas que me acompanhavam na nova fase profissional. Fez toda a diferença perceber que tinha tomado, até então, as melhores decisões e que estar junto de pessoas felizes me alimentaria o corpo e a alma.
Vida, obrigado!
A partilha que aqui deixo tem apenas o propósito de sublinhar que cuidar de nós, e dos nossos, é procurar o equilíbrio entre as diferentes facetas de que somos feitos.
A saúde mental é um bem inestimável. E há dias, senti-me particularmente pequeno perto de um grupo de gente boa que se agiganta ao cuidar deste nosso bem.
Ter vivido de perto tudo (e tanto) que a Casa de Saúde do Telhal, que pertence ao Instituto S. João de Deus, faz por quem sofre pela ausência de tão precioso equilíbrio, fez-me deixar cair preconceitos, mas também agradecer. Como não ser grato à vida?
Os profissionais desta área são em tudo bons. Muito para além dos conhecimentos técnicos, têm um exímio cuidado para com o outro. Têm um olhar despido de quaisquer preconceitos. Ouvem e veem com o coração.
Acrescentou-me tanto este dia. O chorrilho de emoções que senti ficam para sempre a embrulhar os desenhos que fiz com os utentes, estimulados a usar a arte para se expressarem; e também ficam misturadas com os cheiros e nostalgia do tempo em que almoçava na cantina militar com o meu pai.
Ficou-me uma profunda admiração por toda aquela equipa, e por todos aqueles valentes que lutam por encontrar o seu equilíbrio.
Recordei-me então que também eu já precisei de voltar a agarrar a vida, a encontrar o meu equilíbrio. Não desistam. Nunca. Dói, mas não é o fim. É sempre um princípio.
Rui Bairrada começou a sua vida profissional em 1995 como estafeta no Deutsche Bank. Nos anos seguintes assumiu responsabilidades em diferentes áreas comerciais até sair, 12 anos depois, deixando a função de Partnership Banking Coordinator, para criar o seu próprio negócio em finanças pessoais. Nos anos que se seguiram foi Managing Partner da Personal Finance, Diretor Geral da Dignus Capital e Board Member da Reorganiza, até fundar, em 2014, o Doutor Finanças, com o objetivo de ajudar os portugueses a tomar melhores decisões financeiras para as suas vidas. Atualmente, Rui Bairrada é CEO do Doutor Finanças. Em 2023 contou a sua história de vida no livro “De Estafeta a CEO: as decisões que constroem uma liderança”.
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