Vida e família

É Natal: Quero tudo, já!

Já lá vai o tempo em que um presente para cada pessoa chegava. Se o fizermos, podemos até ser olhados de lado… Como assim, só uma PS5?

Já lá vai o tempo em que um presente para cada pessoa chegava. Se o fizermos, podemos até ser olhados de lado… Como assim, só uma PS5?

Esta é uma época que convida a uma grande organização logística e financeira das famílias. Com isto, surge a necessidade de gerir expectativas de adultos e crianças em relação àquilo que é um Natal feliz e preenchido. Independentemente de a gestão financeira ser adequada ou não, não é pouco comum que as famílias tenham de se reorganizar de forma a garantir a aquisição de bens essenciais necessários, assim como gerir os gastos extra que o Natal traz, a quem o celebra.

Com crianças e adolescentes em casa, esta pode ser uma tarefa ainda mais árdua. Com a era digital a avançar a passos largos, os jovens estão cada vez mais expostos a brinquedos e gadgets que gostariam de ter. Longe vai a ideia de que são os adultos os únicos responsáveis por aquilo que adquirem. No fim do século passado, devido ao crescente estudo sobre o desenvolvimento da criança e o seu papel na família, os marketeers começaram a perceber que as crianças são muitas vezes a porta de entrada de determinado produto numa casa. Deixou de fazer sentido que as ações publicitárias fossem dirigidas exclusivamente a adultos, ainda mais com a crescente exposição dos mais jovens aos ecrãs.

Há alguns anos costumávamos rodear nos catálogos das grandes superfícies os brinquedos mais desejados. O que passava na televisão, também estava naquele catálogo: mas só podíamos estar expostos a esta publicidade se nos sentássemos à frente da televisão ou se abríssemos aquelas páginas. Já não é assim: à distância de um clique, temos dezenas de hipóteses de produtos a consumir. E, apesar de existir um lado positivo de ter mais oferta, há também um lado obscuro desta exposição excessiva a conteúdo publicitário. A imediatez de encontrar produtos na internet pode dar-nos a falsa sensação de que a obtenção do mesmo é simples. Bem, do ponto de vista logístico, até pode ser: dois ou três cliques e, passado uma semana, temos a encomenda à porta. Mas e quando estes cliques são na verdade, dezenas? Caminhamos cada vez mais para uma sociedade guiada pela recompensa imediata, com dificuldade em adiar a gratificação. Não só as crianças, nós também. E estas não têm ainda a capacidade que nós, adultos, temos, de filtrar informação (quando conseguimos fazê-lo!).

Crianças mais pequenas têm dificuldade em distinguir a fantasia da realidade, sendo facilmente levadas a pedir determinados brinquedos aos pais. À medida que crescem, ganham cada vez mais vontade própria e interesses específicos, mas até à adolescência, têm ainda dificuldade em interpretar corretamente mensagens dos media. Na adolescência, a vontade de adquirir os produtos que viralizam nas redes sociais já não tem apenas a ver com vontade própria, mas também com a necessidade de preencher o sentido de pertença, tão presente e fundamental durante estes anos do desenvolvimento.

Mas como navegar então estas águas turbulentas?

Alinhar expectativas e ser criativo

Com crianças mais pequenas, a criatividade é a chave! Desde fazer uma lista de brinquedos que vai ser dividida ao longo do ano e que poderão ser oferecidos noutras ocasiões (duvido que a lista se mantenha estável…); explicar que o Pai Natal tem regras em relação aos presentes que entrega (e vocês podem decidir quais são, vejam a sorte!); associar a entrega dos presentes a outra coisa divertida (o clássico tio mascarado; um concurso de quem é que abre os embrulhos mais rápido; entregar os presentes a cantar – vale tudo!).

Com crianças mais velhas e adolescentes, sejamos realistas e sinceros: não é possível obter tudo o que desejam. Pode ser uma boa época para conversar sobre gestão financeira: porque não um sistema de pontos onde o jovem pode receber quantias simbólicas como recompensa por determinados comportamentos, para conseguir depois adquirir ou contribuir para comprar aquilo que deseja? Este tipo de atividade pode fomentar o desenvolvimento de autonomia, resiliência, responsabilidade, gestão financeira, planeamento e outras competências cruciais a um desenvolvimento mais saudável.

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Dar prioridade ao tempo de relação

Não há, e nunca vai haver, presente que substitua a relação. Tudo o que qualquer jovem deseja, mesmo que nem sempre pareça (principalmente nos rebeldes anos de adolescência), é a nossa presença. Vamos fazer de nós, o presente! Não é pouco comum - consciente ou inconscientemente - compensarmos com bem materiais a nossa ausência. Os presentes devem funcionar como complemento, nunca como compensação. Não nos aflijamos se não conseguirmos comprar o presente mais desejado, a memória de um Natal caloroso é o que perdurará no tempo.

Reinventar as tradições

Há sempre espaço para nos reinventarmos. Grande parte de nós continua a gostar de seguir algumas tradições. A árvore de Natal, a troca de presentes, os sonhos à mesa, o típico bacalhau… Mas e se déssemos espaço à família para criar tradições? Algumas ideias podem ser: concursos temáticos; presentes feitos à mão; introdução de uma receita nova; um passeio diferente no dia de Natal; família mascarada na consoada… vale tudo! As crianças têm por norma uma enorme capacidade de imaginação, e estes projetos criados em família criarão com certeza momentos inesquecíveis, mais valiosos que qualquer presente (atrevo-me até a dizer, mais até que uma PS5!).

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Refletir sobre os valores familiares associados ao Natal

Antes de nos despedirmos quero deixar claro que a ideia não é demonizar os presentes: quase todos gostamos de os receber e, na maioria das vezes, têm um simbolismo associado. O que importa é refletirmos que é possível ter um Natal que não se foque nisso, mas sim naquilo que mais importa: a conexão. Infelizmente, nem todos podemos dar aos nossos filhos os bens materiais que desejam, mas precisamos de manter em mente que mais importante que isso, é manter uma família estável e feliz, com ou sem presentes. Que outros valores associam ao Natal? E como os transportam para a vida familiar o resto do ano? Fica uma ideia de conversa para os dias que se avizinham.

Feliz Natal, para aqueles que o celebram. Que nunca nos esqueçamos do que realmente importa!

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Psicóloga Clínica (C.P. 26342) de crianças e adolescentes no Instituto Belong. Experiência na dinamização de cursos de preparação para a natalidade e parentalidade. Membro fundador e dinamizador do Socializa.T, programa de promoção de competências sócio emocionais em crianças e adolescentes. A frequentar a Especialização Avançada em Psicoterapia no ISPA.

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