Os custos de construção em Portugal voltaram a registar um grande aumento em setembro, prolongando a tendência de forte agravamento que se observa desde o final do primeiro trimestre deste ano.
Construir uma habitação nova ficou 13,4% mais caro, em setembro, em comparação com o mesmo mês do ano passado, de acordo com os mais recentes dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). Este é o aumento mais pronunciado desde maio (13,5%), que se segue às subidas de 12,5% em agosto e 13,2% em julho.
Materiais ditam agravamento dos custos de construção
Para estimar os custos de construção de habitações novas, o INE utiliza um índice que tem em conta duas variáveis: o preço dos materiais e da mão-de-obra. E é a primeira variável que tem ditado o forte agravamento dos custos nos últimos meses.
De acordo com os dados do instituto de estatística, o preço dos materiais disparou 18,6%, em setembro, uma subida superior à registada nos dois meses anteriores (16,5% e 17,5%).
Entre os materiais que mais contribuíram para esta evolução estão os produtos cerâmicos, cujo preço registou um crescimento homólogo em torno de 80%. Significa isto que, nesta classe de produtos, os preços praticamente duplicaram no espaço de um ano.
De acordo com o INE, materiais como o cimento, os aglomerados e ladrilhos de cortiça, as madeiras e derivados de madeira e as obras de carpintaria, os tubos de PVC e o consumo de produtos energéticos apresentaram crescimentos homólogos superiores a 20%.
Foi desde meados do ano passado que a subida de preços dos materiais acelerou, devido à confluência de uma série de fatores que deram origem à chamada crise dos materiais: numa primeira fase devido às disrupções provocadas pela pandemia da covid-19 ao nível da oferta e da procura em toda a cadeia produtiva e pela evolução dos preços de certas matérias-primas nos mercados. Por exemplo, o cobre e o alumínio, muito utilizados na construção, registaram subidas superiores a 20% no ano passado.
A crise energética e os constrangimentos na cadeia de abastecimento que se acentuaram este ano agravaram ainda mais o cenário, motivando aumentos de dois dígitos, de forma ininterrupta, desde fevereiro. Dois meses depois, foi observada uma subida recorde, com os preços a dispararem 20,4%, em abril.
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Custo da mão-de-obra volta a desacelerar
Ao contrário do que aconteceu com os materiais, a subida do custo da mão-de-obra desacelerou, em setembro, pelo terceiro mês consecutivo. Depois dos aumentos de 7,3% em julho e 6,8% em agosto, o custo da mão-de-obra subiu 6,1% em setembro, diminuindo o peso desta variável no acréscimo global dos custos de construção.
Olhando para a série histórica do INE, é possível verificar que, até ao final do primeiro semestre de 2021, era a evolução da mão-de-obra que vinha motivando o crescimento dos custos da construção. Estes vêm subindo de forma ininterrupta há mais de uma década – desde janeiro de 2010 – impulsionados, maioritariamente, pelo fator custo do trabalho.
No entanto, esta realidade mudou a meio do ano passado, quando a subida dos materiais passou a ser determinante: em julho de 2021, o crescimento dos preços dos materiais (7,8%) já era o dobro do aumento do custo da mão-de-obra (3,9%). Como vimos, essa divergência é ainda mais notória agora, com acréscimos de 18,6% e 6,1%, respetivamente.
O forte aumento dos custos de construção em Portugal tem sido acompanhado por uma diminuição do número de edifícios concluídos e de edifícios licenciados, um dado relevante para traçar a evolução conjuntural do setor da construção, na perspetiva da intenção futura de realização de obras.
Os números mais recentes, referentes ao segundo trimestre deste ano, mostram que foram licenciados 6,2 mil edifícios em Portugal, -7,9% face ao segundo trimestre de 2021. Do total de edifícios licenciados, 75,5% destinaram-se a construções novas e destes, 80,7% tiveram como finalidade a habitação familiar.
No mesmo período, estima-se que tenham sido concluídos 3,6 mil edifícios em Portugal (construções novas, ampliações, alterações e reconstruções), o que corresponde a uma redução de 4,9% em relação ao mesmo trimestre de 2021. Na sua maior parte, os edifícios concluídos corresponderam a construções novas (82,5%), das quais 77,4% tiveram como destino a habitação familiar.
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