Com a subida das taxas de juro, o recurso ao crédito para aquisição de habitação própria e permanente torna-se mais difícil. De forma natural, a procura retrai-se por incapacidade de recorrer a tanto crédito como há um ano.
Por isso, muitos são aqueles que olham para os efeitos na procura derivados do aumento dos juros. Esquecem que existe o outro lado do mercado: a oferta.
Leia ainda: Habitação: Abrandamento no mercado
Não consigo vender a minha casa
Creio que muitos proprietários que pretendem vender as suas casas estão a passar por esta experiência. Aquilo que há tão pouco tempo parecia relativamente simples, hoje torna-se, no mínimo, mais desafiante. E não conseguem vender por causa dos bancos que não concedem crédito.
Confuso? É simples.
Para haver transação no mercado imobiliário, é necessário haver um comprador e um vendedor. Ora, se os compradores estão hoje com menor poder de compra, por incapacidade de levantar tanto crédito quanto antes, a venda torna-se igualmente mais complicada. Ou o vendedor aceita baixar o preço até ao valor que o comprador está capaz de pagar (em função do montante e condições do crédito) ou a venda não se concretiza.
Uma vez que o mercado imobiliário é, por natureza, lento a reagir, e numa conjuntura onde a oferta ainda é escassa, é natural que haja ainda bastante rigidez no preço. Logo, a tendência de queda de preços não se verifica ainda, pelo que o mais natural será o imóvel não se vender ou, pura e simplesmente, o proprietário retirar o imóvel do mercado.
Leia ainda: Fontes de oferta na habitação
Impacto nas vendas
A subida das taxas de juro não tem só impacto na compra. Obviamente, tem também importante impacto nas vendas.
Tudo isto leva a um mercado mais lento na absorção de unidades imobiliárias, a um potencial decréscimo da oferta no curto prazo e a uma quebra nas transações. E isso traz desafios, quer a investidores, como a agentes imobiliários:
- Para os investidores, que concentraram os seus capitais em house flipping nos últimos anos, deparam-se com mais dificuldade em realizar as suas mais-valias;
- Para os agentes imobiliários, menos oferta significa menos leads, menos angariações. No final, menos transações e uma quebra no comissionamento.
Bons negócios (imobiliários)!
Leia ainda: Abrandamento na habitação: Depois dos sinais, a confirmação
Gonçalo Nascimento Rodrigues é Consultor em Finanças Imobiliárias, tendo trabalhado em empresas como Ernst & Young, Colliers International e Essentia. É Coordenador e Docente numa Pós-Graduação em Investimentos Imobiliários no ISCTE Executive Education. Adicionalmente, exerce atividade de consultoria, prestando serviços de assessoria ao investimento imobiliário. Detém um master em Gestão e Finanças Imobiliárias e um master em Finanças, ambos pelo ISCTE Business School, além de uma licenciatura em Gestão de Empresas na Universidade Católica Portuguesa. É autor do blogue Out of the Box.
A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
Deixe o seu comentário