Qual será o impacto do Coronavírus no mercado imobiliário? Esta é uma das perguntas que muitos querem ver respondida. Ainda será cedo para ter uma completa noção, mas há alguns sinais que podem ajudar a perceber o que esperar.
A pandemia provocada pelo Covid-19 obrigou a um confinamento da população, levando a que muitas empresas registassem uma paragem significativa das suas atividades. Muitos portugueses viram os seus rendimentos reduzidos. E o mercado imobiliário, como está a reagir? Falámos com vários responsáveis, que operam neste mercado, para tentar perceber o que está a acontecer.
Como está a reagir o mercado imobiliário ao Covid?
Poderá ainda ser cedo para tirar conclusões, mas já há algumas pistas. Há menos imóveis a entrarem no mercado, mas ainda estão a fazer-se negócios. Os preços até podem ajustar-se, mas a perspetiva de quem trabalha neste setor é de que não deverá sentir-se quedas abruptas. O mercado de arrendamento poderá ser o que mais sentirá, mas isto temporariamente.
“É muito cedo” para se aferir o impacto real do Covid-19 no mercado imobiliário, assume Gonçalo Nascimento Rodrigues, fundador do blog Out of the Box, especializado no mercado imobiliário, em declarações ao Doutor Finanças.
O responsável sublinha “que o mercado já estava num ajustamento. Na cidade de Lisboa, por exemplo, já se notava uma correção do mercado, com os preços das casas novas a descerem cerca de 1% no último trimestre de 2019”.
E agora, com os preços de venda a estarem elevados, vai demorar mais tempo a conseguir fechar-se negócio. Ainda assim, poderemos só ter uma noção real do impacto de tudo isto no mercado imobiliário nacional no final do ano”, acrescenta Gonçalo Nascimento Rodrigues.
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E os preços, estão a sofrer oscilações?
Neste momento, “as alterações de preços de venda de imóveis quase não existiram”, revela Mila Suharev, co-fundadora da CASAFARI - empresa que agrega dados dos preços a que são colocados os imóveis no mercado e acompanha a sua evolução.
Apesar de ainda não se estar a sentir alterações significativas nos preços, será natural que se verifique quedas no futuro próximo. “Estranharia se os preços não baixassem, mas ainda é cedo para tirar conclusões”, afirma Gonçalo Nascimento Rodrigues.
“É provável que se verifique uma redução nos preços de venda, nomeadamente no mercado de segunda mão, devido ao impacto da crise nos rendimentos de muitas famílias”, considera a CBRE, empresa que atua no mercado imobiliário, numa nota de análise publicada no dia 2 de abril. Ainda assim, a empresa considera que “se a crise não perdurar para além dos três meses”, não haverá fundamento para uma descida acentuada dos preços das habitações novas.
Já a consultora Cushman & Wakefield considera, num relatório publicado sobre o mercado, que “não é esperado um ajuste de preços significativo uma vez que ainda se verifica um desequilíbrio entre oferta e procura no país.”
Em resumo, os vários intervenientes neste mercado assumem que o mais certo será que os preços desçam, mas não estão a antecipar oscilações significativas.
Bancos cortam avaliação das casas pela primeira vez em quatro anos
Certo é já que as avaliações dos imóveis em Portugal já começou a descer. Os valores das avaliações bancárias, para a concessão de crédito habitação, diminuíram já em março, pela primeira vez em quatro anos. Isto num mês marcado pelo Estado de Emergência em Portugal. E ainda que este tenha sido decretado apenas em meados do mês, é já visível algum ajustamento.
O valor mediano da avaliação bancária no mês de março foi de 1.110 euros por metro quadrado, menos um euro que no mês anterior, divulgou o Instituto Nacional de Estatística (INE). Este indicador estava a subir desde março de 2016, sendo esta a primeira vez em quatro anos que se observa um recuo.
Como está a reagir o mercado de compra e venda de habitação?
Neste momento parece que as pessoas estão um pouco “à espera para ver”, aguardando mais alguma definição do futuro. “Em termos de novas listagens de imóveis e transações, parece que está a assistir-se a um modo ‘standby’. Está a haver uma grande queda de novas ofertas”, explica a CASAFARI.
Já a consultora Cushman & Wakefield considera que “a crise atual irá impactar a procura de habitação nos próximos meses”, ainda que admita que poderá haver uma “rápida recuperação do mercado”. E é neste contexto que a Cushman & Wakefield considera que “não é esperado um ajuste de preços significativo.”
A CBRE considera que “deverá verificar-se algum aumento da oferta com a transição de algumas unidades de alojamento local para a habitação tradicional, tanto para venda como para arrendamento; no entanto, serão na maioria, tipologias de pequena dimensão.”
Além disso, “a procura por parte de clientes internacionais deverá retomar primeiro, uma vez que Portugal continuará a oferecer os mesmos fatores diferenciadores reconhecidos pelos estrangeiros. A resposta rápida e eficaz do Governo e da sociedade à pandemia reforça esta boa reputação”, considera a Cushman & Wakefield num relatório de acompanhamento do mercado imobiliário nacional.
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E no mercado de arrendamento, sentem-se mudanças?
O mercado de arrendamento poderá ser o que apresenta maiores oscilações, com especial incidência em localizações como Lisboa, Porto e Algarve. Isto devido ao alojamento local. Com a quebra do turismo os empresários que estavam a explorar este negócio podem ver-se obrigados a colocar estes imóveis no mercado de arrendamento habitacional.
Este contexto poderá provocar quebra dos preços praticados, uma vez que a oferta aumenta.
Este fenómeno já se começa a fazer sentir. “Os preços dos arrendamentos mudaram nos centros de Lisboa e Porto, onde os preços mais caíram”, refere Mila Suharev da CASAFARI, adiantando que há “alguns imóveis que estavam arrendados no mercado de curta duração a aparecerem nas ofertas de longa duração.” Uma realidade que faz com que os preços se ajustem, “especialmente entre os apartamentos de um e dois quartos”, adianta a mesma responsável.
Gonçalo Nascimento Rodrigues, do Out of the Box, diz que “já se está a verificar uma transição dos arrendamentos de curta duração para o arrendamento residencial. É uma fuga natural”, explica. O responsável diz, contudo, acreditar “que esta questão é conjuntural e que não representará a realidade no futuro”, ainda que possa demorar até que o mercado regresse à normalidade.
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O mercado imobiliário está, assim, a sofrer algumas adaptações. Contudo, as prespetivas são de que estes ajustamentos sejam temporários e que dentro de alguns meses o mercado regresse a alguma normalidade.
A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
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