Quantas vezes mudou de empresa de eletricidade nos últimos 3 anos? Já nem vou mais atrás. Se não mudou nenhuma vez, não se preocupe: é um português “normal”. Mas está a perder muito dinheiro.
São dados preocupantes: em março de 2025, a Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE) atualizou o estudo que faz de 4 em 4 anos sobre o consumo do mercado da energia (eletricidade e gás) em Portugal e revelou que mais de metade dos portugueses (54%) já mudou de fornecedor de eletricidade pelo menos uma vez. É um progresso notável face aos 37,7% registados em 2020.
No entanto, a mesma análise revelou que a maioria dos consumidores que mudaram só o fez uma vez na última década, o que significa que muitos continuam a pagar mais do que deviam simplesmente por não compararem os tarifários regularmente. Mudaram uma vez em 10 anos! Mas para metade ter mudado uma vez, quer dizer que a outra metade nunca mudou! Que desperdício de dinheiro. Até parece que somos ricos…
O mercado de energia é dinâmico, com empresas a lançar novas ofertas e promoções de forma constante. Uma tarifa que era vantajosa há alguns anos pode estar agora desatualizada e ser mais cara do que outras disponíveis. Além disso, algumas empresas aplicam aumentos de preços após uma promoção inicial (3 ou 6 meses), e os clientes que não acompanham estas mudanças acabam por pagar mais sem se aperceberem.
Para evitar estes gastos desnecessários, tem de se mexer: comparar preços regularmente e mudar de fornecedor sempre que houver uma opção mais vantajosa.
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Use os simuladores
O primeiro passo para garantir uma escolha informada é utilizar um simulador de preços, como o disponibilizado pela ERSE ou outros. Infelizmente, apenas 23,3% dos consumidores (diz o estudo da ERSE) conhecem esta ferramenta, quando todos deviam estar a utilizá-la. Depois de identificar a melhor tarifa, é essencial analisar as condições do seu atual contrato e garantir que a nova oferta traz vantagens a longo prazo e não apenas um desconto temporário.
Mudar de fornecedor não precisa de ser uma tarefa complicada. Um método eficaz para manter as contas controladas é definir um lembrete semestral ou anual para verificar os preços no mercado, da mesma forma como faz com o seguro do carro (pelo menos, espero que faça). Além disso, é importante estar atento a campanhas promocionais para novos clientes, que podem trazer benefícios financeiros imediatos. Por exemplo, pode aproveitar um desconto de 50 euros para novos clientes durante x meses, e assim que essa promoção acaba, mudar para outra empresa que também esteja a oferecer algo para novos clientes e assim sucessivamente.
Atenção à potência contratada
Outro fator muitas vezes esquecido é a potência contratada. Muitas famílias pagam mais do que deviam porque escolheram - por ignorância ou medo - uma potência superior à necessária. Baixar este valor pode gerar uma poupança imediata sem impacto no conforto diário.
Também é recomendável evitar faturas baseadas em estimativas de consumo e, sempre que possível, enviar leituras reais do contador para evitar surpresas desagradáveis. É verdade que já há contadores inteligentes, mas milhares ainda não estão ligados à rede central.
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Pode poupar muito dinheiro
O impacto destas pequenas mudanças pode ser significativo. Por exemplo, uma família que pague 100 euros mensais pela eletricidade e encontre regularmente uma tarifa 20% mais barata pode poupar 240 euros por ano. Em cinco anos, esta simples mudança representa 1.200 euros, um valor suficiente para umas férias ou para reforçar um fundo de emergência.
Um casal que reduza a potência contratada de 6,9 kVA ou superior para 4,6 kVA (ou 3,45 kVA) pode poupar entre 60 euros e 100 euros por ano, sem alterar os seus hábitos de consumo.
Feitas as contas, a questão é muito simples: porque é que milhões de portugueses continuam a pagar mais quando pode reduzir a sua fatura com uma mudança rápida e sem complicações? Comparar preços e escolher a melhor oferta é um hábito que pode fazer toda a diferença no orçamento familiar.
Conhece pessoas que se queixam permanentemente de que não têm dinheiro para coisas relativamente simples e básicas? Em alguns casos, a inércia e o medo de fazer algumas mudanças são duas das razões. Mude e experimente. Se não gostar, é só voltar para onde estava. O risco é zero.
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Pedro Andersson nasceu em 1973 e apaixonou-se pelo jornalismo ainda adolescente, na Rádio Clube da Covilhã. Licenciou-se em Comunicação Social, na Universidade da Beira Interior, e começou a carreira profissional na TSF. Em 2000, foi convidado para ser um dos jornalistas fundadores da SIC Notícias. Atualmente, continua na SIC, como jornalista coordenador, e é responsável desde 2011 pela rubrica "Contas-Poupança", dedicada às finanças pessoais. Tenta levar a realidade do dia a dia para as reportagens que realiza.
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