O esquema em pirâmide da grande múmia

O que seria de nós sem os Teen Titans? O episódio “Esquema de Pirâmide” (terceira temporada, episódio 46) tem tudo para ser um clássico. E, no meio de uma boa dose de nonsense, dar umas certas luzes sobre a burla que nos Estados Unidos também ficou conhecida pelo apelido de Charles Ponzi, o “criador” deste esquema.

Um modelo de negócio insustentável

No cenário dos titãs adolescentes, a necessidade de dinheiro até começa com um sentimento nobre: o Beast Boy está triste porque quer dar uma prenda cara de aniversário ao Cyborg e não tem dinheiro. O amigo bem lhe diz que não quer nada, que não se importa com essas coisas, que ainda faltam meses para a data, mas nada disso entra naquela cabecinha verde. O Beast Boy precisa de dinheiro, e rápido.

O sempre certinho Robin pergunta-lhe se está a pensar trabalhar na loja de tartes para ganhar umas coroas. Trabalhar?!? Nada disso. Para quê, se deram ao Beast Boy um folheto que lhe promete enriquecer de forma fácil? Robin percebe rapidamente que o folheto diz respeito a um esquema em pirâmide. E, em tom professoral, explica aos amigos do que se trata:

"Um esquema de pirâmide é um modelo de negócio insustentável que promete pagar aos participantes de acordo com a quantidade de pessoas que conseguirem envolver no esquema, em vez de se focar na venda de bens ou serviços ao público. O crescimento exponencial do negócio pode causar o colapso da operação, deixando os participantes da base falidos e os do topo ricos."

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O topo da pirâmide ganha muito, sim senhor

Ou seja, os que estão em cima, bem, esses realmente amealham bem. E, para os restantes titãs, quem está no topo de um esquema de pirâmide só pode ser, obviamente, uma múmia. E tentem tirar-lhes essa ideia da cabeça. Tentem!

Já era bom se Robin conseguisse dissuadir o Beast Boy de participar no esquema. Bem lhe diz que não há dinheiro fácil, que é preciso suar para o ganhar… O problema é que Beasty foi um dos primeiros a entrar no cambalacho. E, por isso, não lhe falta gente em redor para tentar envolver no esquema.

E não é que o rapaz verde enriqueceu mesmo? Uns dias depois, já ele está a comer uma salada de notas. Ganhou tanto dinheiro que nem sabe como gastá-lo. Dá para comprar um barco de ouro, um urso de ouro para enfiar num carro de ouro, um frigorífico de ouro para meter comida de ouro lá dentro… Já perceberam, muitas cenas de ouro, porque está farto de receber notas do esquema de pirâmide.

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A promessa de riqueza para todos

Os colegas de Beast, ao verem como o dinheiro da múmia corre facilmente, também querem entrar. Exceto o chato do Robin:

– Não se dá dinheiro para ganhar dinheiro. Isso é como pagar para trabalhar.

E aqueles crachás de xerife e ajudante de xerife que deram a quem entrou no esquema? Ora, não valem nada, só servem para enganar as pessoas, para elas pensarem que ganharam estatuto, que agora são importantes.

O sermão não serve de nada. Ainda vai ele a meio, e já os outros estão a entregar o seu dinheirinho ao Beast Boy. A ilusão de enriquecer de forma fácil foi mais forte. E lá seguem o Cyborg, a Star e a Raven em busca de mais gente para recrutar. E, na verdade, ainda havia tanto super-herói disposto a passar-lhes maços de notas para as mãos!

O desespero sentido pelo Robin é precisamente o desespero de alguém que vê um amigo a meter-se num esquema fraudulento que, muito provavelmente, o vai deixar falido. E nada do que se lhe disser parece conseguir demovê-lo. A ideia de ficar milionário de um dia para o outro, ou simplesmente de se alcançar a estabilidade financeira, é muitíssimo mais forte do que o discurso da sensatez ou da precaução. É por isso que o esquema de pirâmide funciona: a promessa de riqueza revela-se demasiado tentadora. E não faltam truques à múmia, perdão, a quem está no topo da pirâmide, para vender a ideia de que essa riqueza está ao alcance de todos, mesmo todos, os que entrarem no esquema.

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Melhor solução para o problema: Nunca entrar

Voltemos ao episódio. Sim, claro, era mesmo uma Múmia que estava por detrás de tudo. E, agora, ela exige o seu dinheiro. Quer o “dinheiro da Múmia” e, juntamente com o seu exército, vai perseguir quem lhe estiver a dever. Pouco importa se isso vai levar à falência os que estão mais abaixo no esquema; o importante é continuar a alimentar os do topo. Em breve, os Teen Titans ficam a trabalhos forçados para sustentar a grande Múmia. Não se conseguem livrar do esquema em que se meteram. E tudo por causa de uma prenda…

Felizmente que no mundo dos desenhos animados, e dos super-heróis, a resolução dos problemas financeiros pode ser feita à pancadaria. É dar cabo das múmias, pois claro. Mas, na vida real, quem fica agarrado a um esquema destes geralmente só tem uma saída: sair da pirâmide e minimizar as perdas. E aprender a lição, nem que seja num episódio dos Teen Titans.

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Paulo M. Morais

Paulo M. Morais cresceu a jogar futebol de rua e a ouvir provérbios ditos pelas avós. Licenciou-se em Comunicação Social e especializou-se nas áreas do cinema, dos videojogos e da gastronomia. É autor de romances e livros de não ficção. Coleciona jogos de tabuleiro e continua a ver muitos filmes. Gosta de cozinhar, olhar o mar, ler.