Os portugueses são, por norma, um povo conservador. A forma como fomos crescendo ao longo dos anos tem muita influência nas nossas decisões e na forma como lidamos com o nosso dia-a-dia. No campo da literacia financeira, o conservadorismo atinge patamares ainda mais elevados, porque a realidade é que a maior parte da população não foi ensinada a potenciar as suas poupanças. Pelo contrário, culturalmente, temos dificuldade em lidar com alternativas que apresentem volatilidade ou oscilações elevadas.
Todos estas inseguranças que nos caracterizam advêm de uma ausência de visão por parte do Estado no sentido de nos proporcionar ferramentas, através de formação especifica em idades precoces, ou colocando este tema na agenda publica, de forma a demonstrar a importância do mesmo para o nosso futuro. De uma forma muito direta, uma população com melhor índice de literacia financeira estará mais consciente para tomar as suas decisões e, em simultâneo, mais segura relativamente ao seu futuro.
Reforma: Deixar nas mãos do Estado o nosso futuro?
Segundo o inquérito de 2021 à Literacia Financeira dos portugueses, apenas 24% dos inquiridos afirma que poupa para a reforma. Do universo dos entrevistados, 84,5% “coloca” o seu futuro nas mãos do Estado, referindo que a sua reforma será o resultado dos descontos para a Segurança Social ou para outro regime contributivo obrigatório.
No passado (até 2006), esta forma de estar até se podia justificar, uma vez que um trabalhador com 40 anos de descontos e um salário medio nacional (na altura) de 730 euros, teria direito a uma reforma 13,2% superior ao último salário recebido. A questão é que se analisarmos e perspetivarmos a evolução deste tema, verificamos que, em 2025, os reformados terão direito a 84,9% do último salário, enquanto em 2050 esse rácio desce para 43,5%. Esta é uma realidade que está muito próxima de acontecer e que merece ou devia merecer a atenção de TODOS, Estado, empresas e cidadãos.
Ontem já era tarde
De uma forma muito racional, este é um problema que deve ser abordado o mais cedo possível. Por este motivo é que se torna fundamental colocar esta questão na agenda pública, para que as pessoas possam ter a noção da sua importância e se possam preparar com decisões lógicas e fundamentadas para o desafio que têm pela frente.
Quanto mais cedo encontrarmos alternativas que podem potenciar as nossas poupanças e que irão servir de complemento na idade de reforma, mais estáveis estaremos relativamente ao que o futuro nos reserva. Como exemplo, nos últimos meses tenho recebido bastantes contactos de jovens que se começam a preocupar com esta temática. Pretendem preparar-se para o futuro, mas sem perceber muito bem em que direção devem seguir.
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Empresas como impulsionadores
As empresas têm cada vez maior preocupação em fazer com que os seus trabalhadores se sintam valorizados e confortáveis. Um trabalhador motivado é, sem dúvida, um “ativo” com mais valor. Os incentivos que vão disponibilizando são cada vez mais abrangentes, sendo o complemento da reforma um ponto importante. Assim, muitas empresas já disponibilizam acesso a fundos de pensões (FP), que têm como objetivo criar uma poupança através de descontos diretos da empresa e do trabalhador (caso este pretenda).
Os FPs são carteiras de investimento que podem ter vários perfis de risco e que se definem pela volatilidade ou oscilação das carteiras que os compõem. Só podem ser resgatados em condições específicas: desemprego de longa duração, reforma e doença grave ou incapacidade permanente para o trabalho.
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Como tomar uma decisão?
Existem vários pontos importantes que devem ser analisados. O primeiro prende-se com a idade para a qual despertamos para esta questão. Quanto mais tempo tivermos pela frente melhor, e mais agressivos deveremos ser. Como exemplo, se quero começar um plano com 25 anos e só vou conseguir ter acesso a esta poupança aos 65 anos, o perfil a escolher deverá ser o mais agressivo possível, porque a tendência é que as carteiras mais agressivas, no longo prazo, gerem melhor performance.
Outro ponto importante passa por conhecer a entidade e a carteira que nos vai ser disponibilizada. Ter a noção dos ativos que a compõem é fundamental para estarmos conscientes da nossa decisão. Neste caso, esta escolha ou opção disponibilizada passará muito pelos critérios das empresas que colocam à disposição dos seus colaboradores uma entidade gestora pré-definida. Contudo, será importante ter a noção que a qualquer momento, cada um de nós, pode transferir o seu FP para outra entidade que entenda.
Hora de agir
Em suma, é fundamental que todos percebam a importância deste tema e que o coloquem no topo das suas prioridades. Como em tudo na vida, quanto mais cedo nos dedicarmos a este tema e tomarmos as decisões certas, no futuro iremos retirar o benefício correspondente.
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Apaixonado pelo desporto e economia, foi jogador profissional de Futebol, tendo atuado em clubes como S.L. Benfica, Estoril, entre outros. Conciliou a carreira desportiva com a académica, terminando a licenciatura em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa (NOVA SBE). Continua ligado às suas duas paixões profissionais, desempenhando a função de Financial Advisor e colaborando como analista desportivo na CNN Portugal. Foi comentador residente no programa Jogo Económico do JE e Presidente do Conselho Fiscal da Federação Portuguesa de Footgolf. (FPFG). Participa com regularidade em eventos sobre Literacia Financeira.
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