Quando se ouve falar em turismo inclusivo ou acessível aquilo que nos vem imediatamente à cabeça é um turismo para pessoas com deficiência e isso não pode estar mais errado.
O turismo acessível é aquele que permite que todas as pessoas, independentemente das suas limitações físicas, necessidades específicas, deficiências ou idade, possam usufruir de produtos ou serviços enquanto estão de viagem, seja em lazer ou em trabalho.
Será Portugal um destino acessível?
Portugal é um país com muito para descobrir, desde a sua costa atlântica, repleta de praias lindíssimas, até ao interior com paisagens e cidades magníficas.
Quando se pensa em Portugal surge, naturalmente, a ideia de um destino de praia, mas há muito mais a fazer e a explorar. Apesar de ser um país pequeno, é um país de muitas tradições e de costumes diferentes consoante a zona em que estamos. É, por isso, um excelente destino para umas férias diversificadas e para todos os gostos.
Um destino acessível é aquele que pode ser visitado e desfrutado por todos em pé de igualdade, onde todos são bem-vindos e bem recebidos, e onde todos podem usufruir de tudo de forma independente e autónoma e de maneira equitativa, consoante as limitações e necessidades de cada um.
O Turismo de Portugal lançou o programa All for All em 2016, visando o desenvolvimento de programas que contribuíssem para tornar o setor acessível. Daí resultou um investimento superior a 15 milhões de euros, aplicados em mais de 100 projetos que, direta ou indiretamente, beneficiaram este segmento e deram impulso a futuros projetos com essa preocupação.
Existe no país o programa “Praia Acessível, Praia para Todos!” com a finalidade de tornar as praias acessíveis a todos, e a lista tem vindo a crescer de ano para ano, contando em 2022 com 233 praias marítimas ou fluviais.
Também nesta área se tem evoluído em termos de número de praias que aderem ao programa. No entanto, não existe uma resposta eficaz que permita a muitas pessoas serem independentes e conseguirem tomar banho sem depender de ajuda.
As cidades estão a transformar-se e a modernizar-se e, como consequência, a tornar-se mais inclusivas. As calçadas estão a ser rebaixadas, os monumentos ficam ao alcance de todos e as praias preparadas para receber pessoas com mobilidade condicionada… Até os privados começam a ter essa consciência e a modificar os seus espaços. Muitos hotéis estão adaptados e os alojamentos mais pequenos, espalhados pelo país, começam agora a ter resposta a esta questão.
De facto, houve uma grande evolução, mas há ainda um longo caminho pela frente de modo a que todos os lugares e todas as experiências possam, efetivamente, ser usufruídas por todas as pessoas.
Existe ainda uma grande diferença entre cidades e a realidade de umas é bem diferente de outras, sendo que, até mesmo dentro da mesma cidade, se encontram situações de acessibilidade muito díspares como, por exemplo, em Lisboa, em que certas zonas mais antigas não estão de todo preparadas para quem se desloca em cadeira de rodas.
Neste âmbito, a Associação Salvador tem feito um grande trabalho de sensibilização e promoção da acessibilidade, principalmente em escolas e autarquias, contribuindo em muito para a evolução e eliminação de barreiras físicas e até mesmo atitudinais.
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Porque fica o turismo acessível mais caro?
Há algum tempo que os hotéis de quatro e cinco estrelas já dão resposta, em termos de acessibilidades, começando agora a tendência a estender-se aos restantes. No entanto, um hotel tem, normalmente, um ou dois quartos adaptados, o que faz com que nem sempre haja disponibilidade, principalmente em época alta e, muitas vezes, esses quartos são de uma categoria superior e, consequentemente, mais caros.
Em relação a outro tipo de alojamento, e se formos para o interior do país e para zonas menos evoluídas, esta questão ainda se acentua mais.
O mesmo se verifica na restauração, uma vez que ainda é muito difícil encontrar restaurantes com entradas sem obstáculos e casas de banho adaptadas, sendo, mais uma vez, nos mais caros que há maior probabilidade de o conseguir.
Resposta do turismo acessível
É muito importante que, além da eliminação das barreiras físicas e criação de condições de acessibilidade para todas as pessoas, seja reforçado o investimento feito na formação dos colaboradores no que concerne ao atendimento.
Uma vez que raramente existe informação sobre as acessibilidades dos locais, a única forma de a conseguir é ligando, sendo que a resposta nem sempre é esclarecedora devido à falta de conhecimento de quem atende. Perguntar se uma casa de banho é adaptada gera quase sempre confusão, uma vez que a maior parte das pessoas considera que basta ser ampla para que uma cadeira de rodas consiga entrar e movimentar-se.
Como em qualquer outro segmento de mercado, no turismo, a qualidade do serviço traduz-se, em muito, no atendimento personalizado e na antecipação das necessidades do cliente. Ora, aqui não é diferente. Há que estudar o cliente e as suas especificidades e características de modo a proporcionar a melhor resposta possível.
Quando um cliente faz o check-in num hotel, e lhe são apresentados os serviços disponíveis, há que ter em atenção que não se deve referir aqueles de que este não vai poder usufruir. Por exemplo, se a pessoa está em cadeira de rodas, não lhe deve ser sugerido uma área do hotel cuja acessibilidade seja apenas por degraus.
É fundamental haver o cuidado de dar a oportunidade a todos para participarem em atividades e experiências de um modo equitativo não deixando ninguém de fora nem em desvantagem.
Igualmente importante é empregar pessoas com deficiência, criando um ambiente representativo da sociedade, diverso e que favorece e naturaliza a questão, com a convivência que se cria, afastando preconceitos e crenças que não são verdadeiras.
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O turismo acessível deve ser encarado como uma oportunidade de negócio
Segundo a Organização Mundial da Saúde, cerca de 16% da população mundial tem alguma deficiência ou limitação, e a previsão das Nações Unidas é de que a mesma percentagem terá mais de 65 anos em 2050.
Há que olhar para estes números e ver aqui um nicho de mercado muito atrativo que quer viajar e está disposto a pagar para isso, merecendo ser explorado de modo a receber uma resposta às suas necessidades.
Quem beneficia do turismo acessível?
A resposta é muito fácil, todos!
A vantagem do turismo acessível e do desenho universal é que ele serve a todos. Outra grande vantagem do investimento nas acessibilidades no turismo é que se transformam cidades, e consequentemente países, beneficiando quem neles vive.
Cabe a cada um de nós ter um papel proativo e alertar para situações que não estão bem ou que necessitem de melhoramento em termos de acessibilidades. Não no sentido depreciativo, mas sensibilizando de forma positiva, contribuindo assim para o benefício de todos nós. Essa é a atitude que procuro ter, deixando sempre uma nota de elogio ao que está bem e sugestões de melhoria para o que está mal.
Portugal é um destino turístico de excelência e, numa altura em que se fala tanto de sustentabilidade e de inclusão, não faz sentido deixar ninguém de fora.
*Artigo de Sofia Martins, mentora de acessibilidades da Associação Salvador, autora do blogue JustGo by Sofia.
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A Associação Salvador, fundada por Salvador Mendes de Almeida, em 2003, é uma Instituição de Solidariedade Social que atua na área da deficiência motora. Ao longo do tempo, tem desenvolvido projetos diferentes e ambiciosos que tiveram excelentes resultados e um demonstrado impacto na melhoria da integração e qualidade de vida de inúmeras pessoas com deficiência, potenciando os seus talentos e sensibilizando para a igualdade de oportunidades.
A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
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