Poderá a inflação e a escalada das taxas de juro ter aberto um pouco mais as portas para a educação financeira, nomeadamente das crianças? Sérgio Cardoso, Chief Academic Officer do Doutor Finanças, é perentório: “O dinheiro continua a ser tema que não se discute em casa, muito menos com as crianças”. No entanto, sublinha, “é interessante porque a maior parte das discussões sobre literacia financeira têm mais a ver com comportamentos do que com conhecimentos sobre finanças”.
Para o responsável da Academia Doutor Finanças, é essencial ter paciência, consistência, disponibilidade e bom senso para falar sobre dinheiro com os mais novos. Até porque, defende, o ambiente familiar e os amigos continuam a ser o principal palco da aprendizagem: “Se não dermos o exemplo, vamos continuar a ter estes desafios”.
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Como explicar a inflação e subida dos juros às crianças
Para Sérgio Cardoso, na conjuntura atual, uma criança de 9 ou 11 anos já consegue perceber conceitos como a inflação: “Basta pegar em algo que seja familiar, por exemplo, um gelado, e explicar à criança que se, no ano passado, com 5 euros conseguia comprar quatro gelados, este ano já só consegue comprar dois”.
A questão dos juros, sublinha, deve ser abordada com crianças mais velhas, começando por explicar-lhes que “tudo tem um preço, e o dinheiro também. O preço do dinheiro são os juros”, refere. Para o responsável, dada a mudança de hábitos de muitas famílias, torna-se essencial abordar o assunto, até para explicar às crianças porque é que a família não pode ir jantar fora ou ao cinema tantas vezes, ou fazer o tipo de férias a que estavam habituados, por exemplo.
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Educação financeira é mais do que aprender a poupar
O responsável da Academia Doutor Finanças defende que existem dois conceitos transversais que devem ser transmitidos às crianças: empreendedorismo e solidariedade. “Geralmente, quando falamos em gerir dinheiro, estamos a ligar a poupança ao consumo. No Doutor Finanças defendemos que a criança deve ter três mealheiros: para aprender a poupar, a gastar, mas também a ser solidária”.
E errar faz parte do processo: “Quando a criança gasta a semanada toda antes do tempo, por exemplo, é preciso ser consistente, mas também ter bom senso”, adianta Sérgio Cardoso, que defende que a semanada e a mesada devem ter regras definidas, à partida. E consequências, para que o erro se transforme em aprendizagem.
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Distinguir o essencial do acessório
Não são apenas as crianças pequenas que têm dificuldade em distinguir o essencial do acessório. Um exemplo? Um adolescente precisa de uns ténis, mas quer uns específicos que custam 120 euros. “É a diferença entre wants and needs”, explica o responsável. “Eu, enquanto pai, posso dar-lhe 50, 60 ou 70 euros para resolver a necessidade, mas para comprar os ténis que ele quer, vai ter de ir ao mealheiro e financiar o restante. No mínimo, vai fazê-lo pensar”.
No entanto, também é necessário ter cuidado e não dar demasiada importância à questão do dinheiro, para não criar ansiedade financeira nas crianças e nos jovens. “Sempre que possível devemos explicar e envolver as crianças nas decisões familiares. E, no que toca à educação financeira, cada criança é única, assim como o contexto familiar, daí não fazer sentido falar em valores médios de semanadas ou mesadas, por exemplo” defende.
O Chief Academic Officer do Doutor Finanças acredita que a falta de literacia financeira não se resolve numa geração, mas defende que já se vê alguma luz ao fundo do túnel: “Já começamos a receber imensos pedidos de alunos de formação nessa área, porque entendem que é uma lacuna que têm na sua formação. A missão do Doutor Finanças é falar sobre o tema, provocar a discussão, disponibilizar conteúdo e ferramentas para promover o bem-estar financeiro das famílias”, remata.
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