Antes de investirmos, devemos ter consciência de quem somos enquanto investidores. Lidamos bem ou mal com eventuais perdas? Consoante o nosso perfil, a carteira de investimentos pode (e deve) ser composta por diferentes ativos.
Para quem está a começar a investir pode ser confuso perceber como pode aplicar o seu dinheiro. O recomendado é que faça primeiro um teste para perceber qual o seu perfil de investidor e depois estipule um plano.
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Qual é o meu perfil de investidor?
Cada um de nós tem um perfil de investidor único. Há pessoas que lidam bem com as oscilações do mercado bolsista, outras não dormem tranquilas só a pensar como vai estar a bolsa de manhã. Há pessoas que querem investir a pensar no curto prazo, outras no longo prazo. Há pessoas que começam a investir ainda muito jovens e outras só o fazem quando estão à beira da idade da reforma.
Todas estas questões vão influenciar o que é recomendado em termos de plano de investimento. E o perfil de investidor reflete precisamente estas características que são únicas em cada um de nós.
Há quatro perfis possíveis: defensivo, moderado, dinâmico e arrojado. Importa perceber o que está em causa e o que é recomendado para cada situação.
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Perfil de investidor: Defensivo
Uma pessoa que tenha muito medo de perder parte das suas poupanças, que tenha uma preocupação elevada com a preservação do capital e esteja já numa idade próxima da reforma, por exemplo, é uma pessoa com um perfil defensivo. Ou seja, é alguém que, investindo em ativos mais voláteis, como ações, não consegue dormir descansado a pensar se na manhã seguinte a sua carteira de investimentos desvalorizou muito ou não.
Nestas situações, é recomendado que a carteira de investimento e poupança seja composta maioritariamente por ativos de capital garantido. Não significa isto que não possa ter uma percentagem pequena de investimentos mais arriscados, mas a maior parte do dinheiro (entre 60% e 80% das poupanças) deve estar colocada em ativos sem risco, como depósitos, certificados ou seguros com capital garantido.
Perfil de investidor: Moderado
Um investidor com um perfil moderado é alguém que procura uma rentabilidade mais elevada e está disponível para assumir algum risco, mas não um risco elevado.
A carteira de investimento de um investidor com perfil moderado deve ser mais diversificada em termos de risco, com os ativos de capital garantido a terem um papel grande (entre 40% e 60% do total), mas a não representarem uma fatia de leão.
Nestes casos, os investimentos em ativos mais arriscados, como ações, devem representar entre 30% e 50% do bolo total, sendo que a escolha do tipo de ações deve respeitar alguns cuidados. Entre o tipo de ativos mais arriscados podem estar blue chips (ações de empresas grandes, com história de estabilidade e solidez), ETF (fundos que replicam índices), fundos de investimento imobiliário ou PPR. Estes são produtos que, incorporando algum risco, têm desempenhos mais estáveis e menos nervosos.
Estes são alguns dos exemplos de ativos mais arriscados que devem constar numa carteira de investimento de um investidor com um perfil moderado, sendo fundamental perceber que tipo de ativos mais arriscados deve incluir na carteira, uma vez que este perfil não lida bem com ativos muito voláteis (ou seja, ativos cujo preço sofre oscilações acentuadas).
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Perfil de investidor: Dinâmico
Alguém que consiga lidar com eventuais perdas no seu património e que esteja disposto a correr alguns riscos é alguém com um perfil de investidor dinâmico.
Estes investidores, que procuram rendibilidades superiores às taxas de juro e lidam bem com eventuais perdas moderadas, podem ter uma carteira de investimento com um peso maior de investimentos mais arriscados.
A carteira de investimento para um perfil destes deve ter uma fatia maior (entre 60% e 80% das poupanças) em ativos de maior risco, como ações, obrigações, ETF, fundos PPR ou fundos de investimento imobiliário. Já os ativos com capital garantido devem representar entre 10% e 20%.
Este investidor pode ter na sua carteira uma parcela das suas poupanças em ativos mais complexos, como contratos estruturados e ativos cuja volatilidade é mais elevada. Ainda assim, não devem representar uma fatia considerável.
Perfil de investidor: Arrojado
Um investidor arrojado é alguém que quer obter rendibilidades elevadas e está disponível para assumir perdas avultadas de capital. Este investidor consegue dormir à noite, mesmo sabendo que o seu património pode estar a sofrer quedas.
Nestas situações, a carteira deve ser composta na sua maioria (entre 70% e 90%) por ativos com maior risco. Em causa estão ações, obrigações, fundos e ETF. Nestas situações, os ativos de capital garantido devem ter um peso menor, sendo que se mantém a recomendação de ter um fundo de reserva para imprevistos que represente entre 5% e 10% do total das poupanças.
Investimentos mais arriscados devem ser considerados para uma estratégia de longo prazo. Alguém que antecipe precisar do dinheiro dentro de pouco tempo, não deve colocar as suas poupanças em ativos que podem implicar perdas avultadas, uma vez que pode não conseguir ter tempo para recuperar dessas perdas.
Fundo de reserva é “obrigatório”, mesmo para um arrojado
Independentemente do nosso perfil de investidor, é recomendado que aloquemos uma parte das nossas poupanças a um fundo de reserva. Este fundo servirá para enfrentar um qualquer imprevisto.
O recomendado é que tenhamos neste fundo o equivalente ao valor que precisaríamos para sobreviver entre três e 12 meses sem outros rendimentos. Quanto maior for a probabilidade de ficarmos sem o nosso rendimento, maior o valor que devemos guardar neste fundo.
Esta é uma regra que deve ser seguida por qualquer pessoa, independentemente do seu perfil de investidor. Até porque este fundo permite que consiga reagir a uma adversidade sem pôr em risco a sua estratégia de investimento. Ao mesmo tempo que lhe dá margem para evitar perdas mais avultadas.
Imagine que precisa de liquidez urgentemente. E que essa necessidade ocorre num período marcado por um ciclo de quedas nos mercados. Para quem tem investimentos em bolsa, esse pode ser o pior momento para fazer um resgate. Se tiver um fundo de reserva, terá mais tempo para o mercado estabilizar e reduzir as potenciais perdas.
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Não basta querer rendibilidades elevadas
Quando fazemos o teste de perfil de investidor devemos ser o mais honestos possível. É daqueles testes em que não ganhamos nada em tentar enganar ou “fazer melhor”. As respostas vão refletir a forma como lidamos com os investimentos e permitem perceber o que melhor se adequa a nós.
É importante também perceber que, hoje, podemos ter um comportamento mais defensivo e, daqui a uns anos, termos um perfil mais dinâmico. O conhecimento que acumulamos, a experiência e os objetivos de vida podem influenciar aquele que é o nosso perfil de investidor.
Outra questão muito importante a ter em consideração é que todos nós gostaríamos de ver as nossas poupanças crescer de forma substancial. Mas não basta desejarmos que elas cresçam 10% ao ano para ser aconselhável prosseguirmos com uma estratégia de investimento mais agressiva. No limite, podemos estar a seguir por um caminho de elevado risco e perdermos uma boa parte das nossas poupanças, sem estarmos preparados para tal.
Conheça-se enquanto investidor, estabeleça uma estratégia de investimento e seja disciplinado. Ao longo do caminho vai precisar de fazer adaptações e, enquanto investidor, poderá evoluir para outro perfil.
A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
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