Bem-estar

Este Halloween, vamos mascarar as emoções?

As emoções têm um papel fundamental na relação connosco e com os outros. Neste Halloween, não as mascare, nem deixe que o assustem demasiado.

As emoções têm um papel fundamental na relação connosco e com os outros. Neste Halloween, não as mascare, nem deixe que o assustem demasiado.

Emoções… consegue ser uma palavra tão assustadora. Ora porque não sabemos o que significam, ou porque surgem em alturas terríveis ou simplesmente porque conseguem ser muito avassaladoras. Muitos de nós têm até dificuldade em perceber que o que sente é uma emoção, quanto mais saber qual é!

É comum crescer sem conhecimento sobre emoções: quais são, quando surgem, como se exprimem no nosso corpo, para que servem e o que fazer com elas. O que precisamos urgentemente de compreender é que as emoções são fulcrais à sobrevivência humana e funcionam como um alarme biológico de resposta a eventos internos e externos. 

O que são as emoções? 

São reações psicofisiológicas automáticas que surgem como resposta a eventos internos e externos. Nas emoções não há heróis e vilões: todas são personagens importantes. Digamos antes confortáveis ou desconfortáveis ou agradáveis e desagradáveis. Os sentimentos, por sua vez, são a nossa interpretação da emoção primária (exemplo: estamos tristes porque um amigo não nos convidou para um plano, e esta emoção evolui para solidão).

As emoções primárias (comumente consideradas a alegria, tristeza, medo, raiva e nojo) são respostas automáticas do nosso corpo: ao contrário do que muitos pensam, não podemos evitá-las, podemos apenas escolher o que fazer com elas.

Neste sentido, é importante diferenciar emoções de pensamentos e comportamentos. Emoções são o que sentimos (é possível nomear apenas com uma palavra - tristeza), pensamentos são aquilo que pensamos (frases que dizemos a nós mesmos interiormente - “Ninguém quer estar comigo”; “Vou ficar sozinho para sempre”) e comportamentos são o que fazemos (as nossas ações - não responder às mensagens de ninguém, recusar um pedido para ir a uma festa). 

Esta diferenciação é útil no sentido em que é importante perceber que as emoções e os pensamentos são automáticos, não podemos simplesmente escolher que não surjam. Por sua vez, os comportamentos são a vertente onde podemos exercer mais controlo (que pode diminuir quando temos um perfil impulsivo ou muita dificuldade na regulação emocional). Com isto não quer dizer que não exista nada que possamos fazer para lidar com emoções e pensamentos difíceis: podemos e devemos.

O nosso cérebro está programado para encontrar ameaças, mas podemos escolher dizer-lhe que algumas situações não são tão perigosas como julga. No entanto, só conseguiremos fazer isto quando tivermos um corpo regulado, caso contrário, não conseguiremos pensar de forma clara.

É possível aprender estratégias que podem atenuar a intensidade das emoções e permitir que sejamos mais realistas e ponderados nos nossos pensamentos e comportamentos. Esta gestão (por vezes muito desafiante e tantas vezes, impossível), pode ter um impacto muito positivo na forma como escolhemos agir e dar-nos a sensação de agência sobre essas escolhas. 

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Para que servem as emoções?

Servem como avaliação de determinado evento, de modo a compreendermos o que fazer a seguir. No fundo, funcionam como bússola dos nossos comportamentos. Ajudam-nos a perceber quais as nossas necessidades e levam-nos a fazer mudanças ou a perceber quando estamos satisfeitos.

Do ponto de vista evolutivo, as emoções são processos adaptativos que nos auxiliam a avaliar o perigo, tomar decisões, ativar comportamentos, treinar competências adaptativas e comunicar com os outros (não é por acaso que a expressão facial e corporal das emoções básicas é comum a todas as culturas, o que as torna universais).

As emoções desagradáveis, tantas vezes negligenciadas, são especialmente adaptativas porque surgem em situações potencialmente perigosas (qualquer que seja o sentido que atribuímos a esta palavra), sendo amplamente responsáveis pela nossa proteção e sobrevivência.

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Qual o papel de cada uma? 

A alegria é uma emoção considerada agradável e confortável (o que não quer dizer que em excesso não possa trazer problemas), que surge quando estamos com alguém de quem gostamos, ou quando acontece algo que nos agrada. A alegria tem a função de nos indicar que estamos satisfeitos e que é importante continuar determinado comportamento (com as devidas exceções, pois claro!) Como consequência, há tendência a que os outros se aproximem de nós. 

A tristeza, por sua vez, é uma das emoções mais incompreendidas. Surge quando há a perceção de perda. Perda de um lugar, de alguém, de um objeto importante… mas também de outros aspetos como a dignidade ou integridade. Sendo uma emoção que nos coloca fisicamente mais inerte (é bastante mais desafiante de identificar no corpo), dá espaço a que reflitamos sobre a situação que ativou a tristeza, de modo a que consigamos decidir de forma mais ponderada o que fazer a seguir, sendo essa a sua principal função: fazer pensar. Quando os outros conseguem identificá-la, pode sinalizar que precisamos de ajuda. 

O medo é uma das emoções mais adaptativas. Não estaria a ler esta crónica se o homem das cavernas não tivesse fugido ou atacado os predadores que viviam perto de si. O medo pode ser visto como um alarme no nosso cérebro que ativa o corpo e sinaliza que precisamos de atacar ou fugir de determinada situação que avaliou como potencialmente perigosa, o que convenhamos… é absolutamente necessário! O problema começa quando o nosso cérebro avalia situações que não são verdadeiramente perigosas, como potenciais ameaças. E aqui entra a nossa grande amiga ansiedade: especialista em inventar cenários que 99% das vezes, não acontecem! 

A raiva… pobre raiva! Tão maltratada. Pensemos: o que sente quando o insultam? Grande parte das pessoas responde raiva. É normal que depois da raiva possam surgir outros sentimentos. Agora imagine que engole a raiva sempre que acontece uma situação assim: encolhe os ombros, pede imediatamente desculpa, desvaloriza o ataque… se a suprimimos sempre, o que será que acontece? Torna-se muito difícil obtermos o respeito que merecemos.

Assim sendo, a raiva surge quando percecionamos algo como injusto. O nosso corpo reúne a energia suficiente para nos defendermos, como um advogado de defesa! É uma emoção polémica no sentido em que confundimos recorrentemente raiva com violência. Mas não são sinónimos! É verdade que a raiva pode gerar violência, mas é possível e desejável que consigamos expressar a nossa raiva de forma efetiva, com respeito para connosco próprios e com os outros. Quando a raiva é traduzida em violência (física, verbal ou psicológica), afasta-nos dos outros. 

O nojo, por fim, é grande amigo do medo: também nos protege. Se a sopa que está no frigorífico cheira mal, é bom que vá para o lixo, sob pena de acabar com uma gastroenterite… Quando dirigido a pessoas, o nojo está mais conectado a atitudes que consideramos condenáveis e traduz-se em sentimentos como desprezo e desdém. 

As emoções traduzem então necessidades e são cruciais à sobrevivência. Não devem ser desvalorizadas ou evitadas, mas antes acolhidas, compreendidas e geridas. Por isso, neste Halloween não vamos mascará-las. Vamos antes dar-lhes a mão, trazê-las à rua e não deixar que nos assustem demasiado.

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Psicóloga Clínica (C.P. 26342) de crianças e adolescentes no Instituto Belong. Experiência na dinamização de cursos de preparação para a natalidade e parentalidade. Membro fundador e dinamizador do Socializa.T, programa de promoção de competências sócio emocionais em crianças e adolescentes. A frequentar a Especialização Avançada em Psicoterapia no ISPA.

A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.

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