Cultura e Lazer

Nem um cêntimo, diz um, aí vão 30 milhões, diz outro

Nesta era em que há mais milionários no mundo do que alguma vez houve, centramos atenções em dois filmes – e tipos – de homens a nadar em dinheiro.

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Nem um cêntimo, diz um, aí vão 30 milhões, diz outro

Nesta era em que há mais milionários no mundo do que alguma vez houve, centramos atenções em dois filmes – e tipos – de homens a nadar em dinheiro.

All the Money in the World (Todo o Dinheiro do Mundo, 2017) é daqueles casos em que o título diz quase tudo. De quem é esta dinheirama toda? De Jean Paul Getty, o multimilionário que se vê confrontado com o rapto do seu neto, John Paul Getty III, um rapaz de 16 anos que teve a sorte de nascer numa família rica. Dissemos a sorte? A ver vamos, a ver vamos…

Esta história baseada em factos reais, à partida, nem deveria ter sumo suficiente para ser, efetivamente, uma história que merecesse ser contada. Em 1973, Jean Paul Getty era um dos homens mais ricos do mundo, graças ao seu império petrolífero. Ora, se um bando de criminosos de meia-tigela resolve raptar o seu neto preferido e exigir um resgate pela vida do adolescente, não lhe seria difícil passar um cheque, certo? Errado, e é esse lado obscuro da riqueza que os argumentistas e o realizador Ridley Scott procuram explorar, contando para isso com a extraordinária interpretação de Christopher Plummer. 

Ter tanto que nem é preciso contá-lo

A mãe de Paul, num contrarrelógio pela vida do filho, implora ao sogro que a ajude, mas embate sistematicamente num muro de teimosia e avareza. Jean Paul simplesmente não encontra naquele sequestro razões suficientes para se separar de 17 milhões de dólares da sua conta bancária; em vez disso, a sua solução passa por enviar o seu segurança Fletcher Chace para investigar e resolver o caso à força. A mãe do jovem e o ex-agente da CIA até acabam por se tornarem meio aliados, mas o filme serve sobretudo para o espectador se questionar sobre quanto valem, afinal, o dinheiro e o amor. E quanto valia, já agora, o multimilionário?

Repórter da Playboy: Tem-se dito que o senhor é o primeiro homem da história a ter uma fortuna que ultrapassa os mil milhões de dólares.

J. Paul Getty:  Não faço ideia. Mas, se conseguimos contar o nosso dinheiro, então não somos multimilionários.

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Uma mudança inesperada de protagonista

O próprio filme seria envolvido em polémica. Antes da estreia, Kevin Spacey, o ator que interpretara inicialmente o ricalhaço forreta, via-se envolvido em acusações de assédio sexual; o estúdio e o realizador tomaram então a decisão de voltar a filmar todas as cenas de Jean Paul Getty, agora com Christopher Plummer. O ator, então já com 88 anos, memorizou os diálogos em 15 dias, mas viria a confessar que contara com a vantagem de ter conhecido pessoalmente o multimilionário, durante algumas festas dadas por este em Londres, na década de 1960. Talvez isso o tenha ajudado a compor a personagem de forma mais equilibrada, juntando um toque de humanidade às atitudes perfeitamente incompreensíveis. Aliás, são essas incongruências que conferem densidade ao retrato de um homem que, apesar de ter todo o dinheiro do mundo, parece viver isolado e amargurado.

Que tipo de milionário seríamos?

«As coisas belas têm uma pureza que eu nunca consegui encontrar noutro ser humano», diz-nos Jean Paul Getty. Entre os momentos tensos do thriller, esta é também a incursão no íntimo de alguém que quis dedicar-se por inteiro à sua missão – os seus negócios –, o que implicava o sacrifício da família. «Quando um homem enriquece, tem de passar a lidar com os problemas da liberdade. Passa a ter ao seu dispor todas as possibilidades imagináveis. Então, abre-se um abismo. Pois bem, eu vi esse abismo. Vi-o arruinar homens, casamentos, mas, sobretudo, arruinar as crianças.»

Seria este medo razão suficiente para que não pudesse tirar do seu bolso nem um cêntimo para tentar salvar o neto? Ou será que este é um daqueles retratos demasiado negros sobre um homem rico? Talvez a pergunta mais importante que se coloca ao espectador seja outra: se fôssemos nós os milionários, que tipo de pessoas seríamos?

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Gastar dinheiro, mas com regras

Se fosse como em Brewster’s Millions (Milionário à Força, 1985) seríamos um pouco tontos, é certo, mas uns mãos-largas. A premissa desta «história norte-americana de excesso» não podia ser mais anedótica: um jogador de basebol de uma liga inferior tem de gastar 30 milhões de dólares em apenas 30 dias, de forma a poder herdar 300 milhões. Parece fácil? Talvez fosse, se não houvesse umas quantas cláusulas a dificultar a tarefa:

  1. Não pode revelar o acordo a ninguém;
  2. Não pode destruir o dinheiro;
  3. Não pode doar o dinheiro para caridade ou dá-lo seja a quem for;
  4. Não pode ficar proprietário de qualquer bem.

Guia para desbaratar uma fortuna

Ou seja, é preciso gastar mesmo o dinheiro. Consumi-lo até ao último tostão. Está-se mesmo a ver que o vão achar louco. E vão, mal Montgomery Brewster (Richard Pryor) embarca na viagem maluca de desbaratar dinheiro a qualquer custo. Não querendo estragar o prazer dos que queiram ver o filme, listemos apenas uma das estratégias mais inteligentes que Brewster encontrou para se livrar de um milhãozito: comprar um selo raro no valor de 1,25 milhões, colá-lo num postal (que custou um cêntimo) e enviá-lo pelo correio; assim usado e enviado a outra pessoa, o selo deixou de ser posse daquele que o adquirira.

Mas, como o filme já tem quase 40 anos, não temos grandes dúvidas de que, se fosse feito um remake agora, haveria muito boa gente disposta a ajudar secretamente o futuro milionário na árdua tarefa de gastar toda aquela massa. E, decerto, teriam esquemas muitíssimo criativos e bem oleados de ficarem com grande parte do dinheiro…

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