Vida e família

Estes rapazes até queimam notas de dólar

Três exemplos do pop, rock e metal que tocaram o tema do dinheiro nas suas canções. Tocaram e, nalguns casos, de forma incendiária. Vá, aumentem o volume…

Três exemplos do pop, rock e metal que tocaram o tema do dinheiro nas suas canções. Tocaram e, nalguns casos, de forma incendiária. Vá, aumentem o volume…

Pet Shop Boys – Opportunities (Let’s Make Lots Of Money) (1986)

Na atmosfera fumarenta de uma garagem subterrânea, o vocalista dos Pet Shop Boys surge de um buraco no solo, quase como se fosse um génio da lâmpada, para nos fazer uma proposta: "Ganhar montes de dinheiro." O ar dele, franzino, jovem, vestido num fato escuro e com chapéu de coco, gera alguma desconfiança. Na verdade, parece-nos um vigarista de meia-tigela… Pois bem, na letra, o protagonista admite que andou a perder tempo com esquemazinhos e parvalhões, ainda por cima sendo um tipo inteligente, que estudou na Sorbonne, que é um crânio em matemáticas, que sabe escrever programas informáticos. Agora chega, está farto de não ter um tostão, e tem na algibeira várias ideias de crimes perfeitos para enriquecer. Só precisa de um comparsa com bom aspeto que o ajude nos golpes. Serás tu? "Faz esta pergunta a ti mesmo: queres ser rico?"

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O Cadillac de ângulos retos e o cifrão pregado à lapela compõem a encenação desta sátira ao capitalismo, servida em ritmo de pop eletrónica. Na altura em que saiu a música estava-se nos tempos áureos do governo de Margaret Thatcher. De repente, a fama passava a estar ligada à riqueza. Em 2013, numa entrevista à revista Mojo, o próprio Tennant confirmaria a mensagem simples e direta da canção. De facto, na altura, tudo parecia resumir-se à ideia de ganhar montes de dinheiro. E agora? "É muito difícil, na atualidade, pensar que chegou a existir um tempo antes da cultura do dinheiro. Aquele foi o momento de mudança. (…) Agora, claro, já existem gerações que cresceram sem terem conhecido outra coisa."   

Voltemos ao videoclip, para retermos os últimos segundos em que o vigarista saído do chão de cimento se desintegra em pó e o carro luxuoso arranca e desaparece. Por mais dinheiro que se tenha, haverá sempre uma questão final: "Quem nos irá enterrar / Quando morrermos?"

Leia ainda: Que parvos nos fazem, canta-se desde o século passado

AC/DC – “Money Talks” (1990)

Subamos um pouco o volume para ouvir as guitarras dos AC/DC.

O videoclip deste tema abre logo com o queimar de uma nota de dólar com o nome da banda (e a efígie de Angus Black ao centro, no lugar do habitual presidente George Washington). Pois bem, subamos um pouco o volume para ouvir as malhas do guitarrista até entrar a voz esganiçada – mas, inequivocamente potente – do vocalista, a gritar o refrão: "Vamos lá, vamos lá, amor pelo dinheiro / Vamos lá, vamos lá, escuta a fala do dinheiro." O vídeo mostra a banda a tocar ao vivo, evidenciando a impressionante ligação ao público (que lhes garantiu bastantes notas de dólar); no final, a plateia vê-se inundada por uma chuva infindável das tais notas falsas, impressas como forma de promover a canção.

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Tudo isto poderia até ser entendido como um hino ao dinheiro, não fosse a letra indiciar uma leitura oposta. O desfile de fatos sob medida, carros com chofer, hotéis de luxo, charutos, criadas e chefes de cozinha estrangeiros, casarões com camas king-size, raparigas que sonham com casacos de peles, diamantes e obras de arte penduradas na parede acaba por ser um dedo apontado a quem ostenta a riqueza. Além disso, a dita “conversa do dinheiro” vem com um custo adicional. Na ânsia de ganhar mais e mais, contornam-se leis, fazem-se negócios duvidosos, enfim, rouba-se aos outros. E assim se aprofunda o fosso entre quem tem e quem não tem.

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Rage Against the Machine – “Sleep Now in the Fire” (1999)

As colunas ainda aguentam que subamos mais o som? É que vem aí a raiva musical dos Rage Against the Machine, desta vez direcionada para a influência – segundo a banda, nefasta – dos Estados Unidos sobre os restantes países. Este mundo às custas dos desejos da América capitalista, visto pelo prisma do realizador Michael Moore, só poderia passar-se às portas da simbólica Bolsa de Wall Street. Com um toque de documentário incisivo, as primeiras imagens do videoclip mostram o interior da bolsa de valores a que se acrescenta uma legenda: "Segunda-feira... Wall Street anuncia recorde de lucros, recorde de despedimentos..." Depois, sob a imagem do então presidente da Câmara de Nova Iorque, escreve-se: "Terça-feira... A cidade de Nova Iorque decreta que os Rage Against the Machine 'NÃO irão atuar em Wall Street'". Pois bem, na quarta-feira lá estava o grupo de guitarras, baquetas e microfone nas mãos, prontos a vociferar a letra incendiária para quem estivesse a passar por ali.

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Paralelamente, os Rage também surgem vestidos de fato, sobre um fundo de notas e moedas, enquanto assistimos a uma representação fictícia de um famoso concurso televisivo, aqui renomeado para algo no estilo "Quem quer ser Podre de Rico?" ou "Quem quer ser Milionário como o Caraças?" (Enfim, dado que se trata de Moore e dos Rage, a tradução poderia ser um bocado mais extremada na linguagem; fica, portanto, à vossa consideração…). Enquanto nas cenas de estúdio os símbolos de cifrão e as imagens de riqueza rodeiam a banda, nas imagens de rua acompanha-se a aproximação da polícia, a suspensão forçada da performance, os atos de resistência e a legenda de que nessa quarta-feira, a meio de um dia de transações, a Bolsa viu-se obrigada a fechar portas. "O dinheiro não sofreu qualquer dano", escreve-se, numa genial adaptação dos avisos que costumam aparecer nos créditos dos filmes.

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Paulo M. Morais cresceu a jogar futebol de rua e a ouvir provérbios ditos pelas avós. Licenciou-se em Comunicação Social e especializou-se nas áreas do cinema, dos videojogos e da gastronomia. É autor de romances e livros de não ficção. Coleciona jogos de tabuleiro e continua a ver muitos filmes. Gosta de cozinhar, olhar o mar, ler.

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